sexta-feira, 6 de março de 2009

Meu nome é Diamante, Dora Diamante.

Dora Diamante é, sem dúvida, um nome sugestivo para uma protagonista de romance policial. Dora, possivelmente a forma reduzida de Pandora (a que deu origem a todos os males da humanidade, na mitologia grega) e Diamante, um pedra preciosa que, no ocidente, simboliza soberania universal, incorruptibilidade e a realidade absoluta. Na arte do Renascimento simbolizou a coragem diante da adversidade, o poder de libertar o espírito do temor, a integridade de caráter. Na mineralogia hindu significa ainda o auge da maturidade. Esses sentidos atribuídos ao diamante convergem para a personagem do romance Os Seios de Pandora: Uma Aventura de Dora Diamante, 1998. Há também uma possível alusão ao nome da amante do escritor Franz Kakfa que se chamava Dora Diamant, professora e atriz.

Dora Diamante é uma jornalista que busca des-vendar um caso de assassinato de uma artista plástica que aconteceu no passado e, por isso, acaba atraindo para si também a morte. Mesmo diante dos perigos, a obstinação da jornalista em descobrir a verdade sobre o assassinato da "lendária" artista plástica mostra uma certa cumplicidade e uma identificação entre essas duas mulheres que dá a narrativa um impulso que transcende o clima do romance policial tradicional. Há uma posição consciente que motiva a jornalista a percorrer os caminhos que levaram ao assassinato de Tessa Laureano. Essa busca não significa apenas uma investigação ou um rastreamento de um assassinato simplesmente, mas a busca de uma auto-descoberta. Des-velar o passado tem um sentido para Dora Diamante que consiste em mergulhar nas situações que fazem com que mulheres sejam eliminadas/banidas de determinados lugares. São mulheres, efetivamente, que ousaram inscrever-se em um espaço estabelecido como masculino.

A personagem Tessa Laureano foi assassinada porque herdaria uma fortuna e isso representa conceder poder econômico a mulher (principal entrave para a emancipação feminina). Dora Diamante, destemidamente, rompe com o silêncio sobre o assassinato e ilumina as causas do mesmo. Iluminado-as, a jornalista estabelece um liame entre passado e presente e fortalece o sentido e a relevância em fazer emergir os motivos pelos quais as exclusões e herança de mortes fazem parte da vida de mulheres, sejam mortes simbólicas ou não.

Caberia refletir se o percurso de Dora Diamante/Tessa Laureano não representaria também os caminhos de muitas outras mulheres de hoje em dia. Não estariam as mulheres, de certa forma, convivendo lado a lado com o perigo e por que não dizer com a morte, sobretudo quando almejam lugares públicos, de poder? As mulheres estariam pre-dispostas a buscar as causas de suas limitações e interditos na sociedade? No que resultaria essa busca? A "aventura" de Dora Diamante provoca algumas inquietações e questionamentos que exigem da/o leitora/r uma forma diferente de ler e estar no mundo.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

A PRODUÇÃO DE SONIA COUTINHO: uma pesquisa através dos sites (parte I)

Existem inúmeras desconfianças quanto ao uso das informações contidas na internet, contudo prefiro me dedicar aos usufrutos que as navegações ou velejamentos me propiciam e que incluem os riscos passíveis a qualquer viajante. O número infinito de dados que os sites de busca nos oferecem nos impelem a fazer seleções das informações que chegam aos nossos olhos, tornando a atividade por vezes demorada e cansativa, ao mesmo tempo que motivadora e prazerosa.

Quando necessitei de material para compor um estudo sobre a produção de Sonia Coutinho encontrei uma série de informações que, certamente, se não fosse a internet, não teria acesso, pelo menos, em tempo tão curto e de forma tão confortável. Pude acompanhar, por exemplo, dentre as atividades desempenhadas pela escritora, os livros publicados, os assuntos das palestras feitas em outros países e no Brasil, o estudo de suas produções em inúmeras universidades brasileiras e estrangeiras, as entrevistas, e muitos outros dados.

A internet é uma ferramenta imprescindível para a pesquisa e, consequentemente, para a ampliação do conhecimento porque ela permite o acesso a um número vasto de informações que certamente de outra forma seriam difíceis de encontrar. Por exemplo, no site http://www2.metodista.br/unesco/jbcc/jbcc64.htm verifiquei que a escritora foi citada em livro intitulado "A ousadia da criação: Universidade e cultura", quando se discutia a importância do movimento intelectual dos anos 50-60 para a formação de uma "modernidade artísitica e científica" na Bahia através da contribuição de artistas e intelectuais como Sonia Coutinho. Esse aspecto é importante para entender as condições de produção da escritora que não apenas inova a narrativa ficcional, do ponto de vista da estrutura e da linguagem, mas apresentando temas igualmente inovadores ao discutir, desde os anos 70, o patriarcado na Bahia e os seus efeitos na vida de homens e mulheres, sobretudo estas. As produções da escritora têm sido estudadas em Universidades dentro e fora do Brasil, fazendo parte de programas de cursos de graduação e pós-graduação, dada a dimensão e importância de seu trabalho.

A partir de hoje vocês terão acesso aos resultados desse estudo que serão publicados periodicamente nesse blogue. Acompanhem-no!
(Esse artigo foi publicado no blogue http://teialiteraria.blogspot.com/, mas que, por razões que desconheço, foi desapropriado de mim.)