domingo, 2 de maio de 2010

QUEM É QUEM

Algumas pessoas têm me perguntado sobre as mulheres que estão no banner título do blog. Atendendo a pedidos, segue o nome das escritoras (ordem de leitura ocidental  - esquerda para direita e de cima para baixo).


Charlotte Brönte
Elizabeth Bishop
Doris Lessing
Katherine Mansfield
Virgina Woolf
Marguerite Duras
Mary Shelley
Helena Parente Cunha
Myriam Fraga

Você já as tinha identificado?

IMPRESSÕES SOBRE A LITERATURA CHICK LIT

"Chick lit é um gênero ficção dentro da ficção feminina, que aborda as questões das mulheres modernas. Chick-Lits são romances leves, divertidos e charmosos, que são o retrato da mulher moderna, independente, culta e audaciosa." (wikipédia)


A definição parece agradar as feministas, pois trata-se de romances protagonizados por mulheres, mas como todo discurso ardiloso, o enunciado prepara para um "mas" sobre essas mulheres, tão "independentes" e com tantos atributos. Elas são representadas como insatisfeitas, já que, em sua vida pessoal, as coisas parecem não "funcionar" tão bem. A questão é que as mulheres bem-sucedidas, como as que são mostradas por este tipo de literatura, convivem ainda em uma sociedade cuja cultura de gênero permenece inalterada. Apesar de não ser diretamente uma crítica ao sistema misógino que alicerça as relações contemporâneas de gênero (aliás está bem longe disto), o chick lit, se interpretado sob a ótica feminista, parece nos dizer isso.

As protagonistas do chick lit são todas mulheres, em geral maduras, com aproximadamente trinta anos, momento em que começam a se estabelecer na carreira profissionl. É a fase da vida em que elas já cruzaram a juventude e estão estabelecidas (falo de uma classe média, média alta) e se preparam para ampliar os seus rizomas. Estão mais criativas e é nesse momento que incide contra ela todos os apelos da maternidade e do príncipe encantado. São mulheres que mergulharam na profissão, em geral trabalham nas grandes corporações, vivenciando todas as pressões cotidianas em torno das exigências que a sociedade faz à mulher: ela "pode" galgar os mais altos postos de uma empresa, desde que mantenha os elementos que o homem considera desejáveis: a feminilidade, por exemplo.

Os romances desse gênero salientam que as mulheres estão mais preocupadas em partir em busca de um marido que lhe possa dar filhos do que na manutenção de sua carreira profissional. Depois de alcançar a estabilidade, os romances chick lit trazem uma leitura invertida da mulher contemporânea e transforma o mal-estar daquelas afetadas pela mítica feminina (FRIEDAN) em uma relação inversa: se as mulheres dos anos 50 se sentiam "incompletas", infelizes com os seus limitados papéis de esposa e mãe, as protagonistas do chick lit estão se sentindo "inacabadas" por não terem um marido e filhos. Falta-lhes estarem dentro de uma estrutura legítima - a família nuclear/burguesa. A lógica permanece binária e oposicional. A crise que os romances chick lit apresenta da mulher adulta, urbana, contemporânea parece revelar os resquícios de uma sociedade que pensa nos moldes patriarcais, mas que desistiu de partir para o embate frontal com as feministas e perceberam uma arma poderosa para destruir as conquistas das mulheres, sem aparecer como algoz: a linguagem. Por sua polissemia, seu deslizamento semântico e suas multifaces, a linguagem se torna peça fundamental (e não é de agora) de um jogo de poder, muito mais complexo, dada as tecnologias, que só através de um dispositivo de crítica igualmente sustentado pela linguagem podería identificar as nuances das relações de força presentes nos discursos. Hoje a análise do discurso crítica (FAIRCLOUGH;WODAK;VAN DICK) é a que pode nos oferecer conceitos -chaves para interpretar os textos que passeiam à nossa volta.

Nos romances chick lit, o que as protagonistas mostram é a falência de um projeto burguês para as mulheres e, mais uma vez, a tortura pela qual as mulheres passam dentro desse projeto. A necessidade de procurar um marido expõe o refluxo pelo qual passamos, obrigando as mulheres a abrirem mão de suas conquistas em prol de um romance.

O que há de mais sedutor neste tipo de romance é que ele provoca uma onda de escapismo para as mulheres, como se estivessem em um ringue e necessitassem "jogar a toalha". Há pouco tempo li um romance desse gênero intitulado Manhunt, da escritora norte-americana Janet Evanovich. A capa do livro, como vocês podem ver ao lado já diz muita coisa: um amor na cabana. A protagonista, Alexandra Scott, é uma mulher de aproximadamente trinta anos que sai de Nova Iorque para o Alasca para encontrar um marido porque não há mulheres suficientes lá. É uma mulher bem-sucedida profissionalmente, mas que deseja um homem (daí o título do romance ser manhunt que significa "perseguição") e com ele ter filhos.

“One of the reasons I came to Alaska was to find a husband” (título de abertura do romance)

Depois que um colega, Harry  Kowalski, lhe vende uma cabana e uma loja, ela segue viagem para o Alasca com o seu cachorro rotweiller, Bruno. Algumas peripécias levam-na ao encontro de um homem, Michael Casey, que é representado como o seu "protetor" (palavra fundamental neste tipo de romance, já que as mulheres, apesar das responsabilidades e  independência, são vistas como infantis, carecendo de algum homem que as tutelem. Até um cachorro serve para potegê-las). Já no primeiro encontro, ele "resgata" Bruno após ter caído na água ao aportarem no Alasca. Depois de passar por situações extremamente constrangedoras com Casey, como a de ser oferecida para os homens da cidade, após ter revelado o seu propósito ao seu "protetor", Scott se percebe apaixonada pelo seu algoz que ora a proteje e ora a "oferece aos lobos". Nesse jogo psicológico, cresce a necessidade de fazer parte da vida de Casey que a envolve em um mistério, já que não quer se casar e muito menos ter filhos. A sua vida pessoal não é mostrada de imediato, um recurso que visa adminsitrar o tempo de leitura e provocar a adesão da leitora que, assim como a protagonista, quer saber das viagens misteriosas de Casey e das suas aparições súbitas, mostrando-se exageradamente protetor.

Os romances chick lit são uma versão daqueles pequenos livros que eram vendidos nas bancas de revistas do Brasil e que recebiam nomes femininos: Júlia, Sabrina, Bianca. Porém, muito mais glamourosos e ambientados em um contexto mais urbano e contemporâneo. As protagonistas dirigem BMWs, mas não as suas vidas.

O romance de Evanovich termina com a protagonista sendo lesada pelo colega Harry que toma de volta a cabana e a loja, depois que ela faz a reforma e sente-se pertencida ao lugar. Espera-se que ela o acuse de mal-caratismo e acione um advogado, mas ela sequer esbraveja porque Casey já havia lhe pedido a mão em casamento.