domingo, 6 de setembro de 2009

MAIS UM POUCO DE EMILY DICKINSON

Observe no poema abaixo como as palavras liberdade (voar) e prisão fazem parte de uma angústia existencial da mulher que almeja sair da prisão dos códigos morais vigentes, tendo consciência da força que a oprime.


I never hear the word "escape"
Without a quicker blood,
A sudden expectation,
A flying attitude!
I never hear of prisons broad

By soldiers battered down,
But I tug childish at my bars
Only to fail again!
Emily Dikinson

TRADUÇÃO

Eu nunca ouço a palavra "escapar"
Sem sentir fremente o sangue
Nas veias, espera do de repente,
Atitude de voar!
Nunca ouço de maciças prisões

Em combates derrubadas
Sem ficar sacudindo as minhas grades,
Infantilmente - p'ra nada.

Emily Dikinson (Tradução: Aíla de Oliveira Gomes)
Enviado por: José P. Di Cavalcanti Jr.
Fonte: http://www.blocosonline.com.br/literatura/poesia/pidp/pidp010708.htm

BELEZA E VERDADE (EMILY DICKINSON (1830-1886)

Tradução de Manuel Bandeira

Morri pela beleza, mas apenas estava
Acomodada em meu túmulo,
Alguém que morrera pela verdade,
Era depositado no carneiro próximo.
Perguntou-me baixinho o que me matara.
– A beleza, respondi.
– A mim, a verdade, – é a mesma coisa,
Somos irmãos.
E assim, como parentes que uma noite se encontram,
Conversamos de jazigo a jazigo
Até que o musgo alcançou os nossos lábios
E cobriu os nossos nomes.
Há quem diga que poesia não foi feita para analisar, mas para senti-la e só. Mas como crítica que sou não posso me furtar ao exercício da interpretação e para tal necessito apresentar o contexto. Emily Dinckson nasceu na Inglaterra no século XIX, na chamada Era Vitoriana. Chamava-se assim por conta de um código moral implantado pela Rainha Vitória permeado de preconceito, repressão sexual e afetiva, sobretudo para as mulheres, cada vez mais enclausuradas em um mundo hipócrita de proibições e transgressões.
Nesse poema, o eu-lírico coloca em um mesmo nível a beleza e a verdade, ambas "irmãs", porque efêmeras e alimentadas pela vaidade humana. O fato de escolher um jazigo, fortalece o sentido da finitude das duas e a máscara que as reveste, ornadas para o outro, para seduzi-lo.
Se fizermos uma leitura a partir do lugar de fala da escritora, considerando o seu momento histórico e cultural, podemos identificar uma certa denúncia nesse poema, uma vez que a beleza, eleita pela sociedade patriarcal para ser cultuada pela mulher, é a razão da sua morte social, pois a acorrenta a um jogo de sedução que a imobiliza dentro de um construto da feminilidade a partir do olhar do homem, que por sua vez, para alcançar o seu intuito, constrói o seu discurso em torno de verdades. Essas verdades aparecem como discurso na sustentação de uma ideologia patriarcal mascarada.