terça-feira, 31 de agosto de 2010

SOBRE A LITERATURA INFANTIL

Eu não sou uma estudiosa em literatura infantil, mas tenho tido alguns encontros com esta vertente da literatura, sobretudo porque agora faço parte do Departamento de Educação e, portanto, com maior possibilidade de leituras sobre o tema.
É muito interessante perceber a história da literatura infantil e de como a tecnologia acaba definindo o suporte de interatividade, mudando o acesso e a forma de ler. Até chegar à internet, a literatura infantil tem percorrido caminhos que vão desde a transcrição das narrativas orais com auxílio da tinta e do papel, atravessando a revolução industrial com a ajuda da prensa até chegar na revolução tecnológica contemporânea dos meios audiovisuais e digitais por meio dos quais as narrativas são gravadas, filmadas e digitadas.

O curioso é que, assim com a literatura "adulta", a literatura infantil também se estruturou a partir de coletas de material da tradição oral. Quem assistiu ao filme "Os Irmãos Grimm", estrelado pelos excelentes atores Heath Ledger (falecido) e Matt Damon, sabe do que estou estou falando. No filme, os irmãos Grimm vivem da transcrição dos contos narrados oralmente pelas pessoas. Provavelmente a delimitação e a fronteira entre a literatura adulta e infantil começou a se desenhar à medida em que uma nova ordem se estruturava e para que ela se estabelecesse era necessário que as ideias fossem divulgadas desde cedo a fim de formar o novo cidadão, o novo sujeito lapidado pela nova ordem social e que pudesse mantê-la, sustentá-la.

Assim, os contos de fada começam a ser transcritos e adaptados de acordo com as necessidades e valores da classe emergente e por isso tiveram uma tônica tão pedagógica, enaltecendo comportamentos que atendiam a ideologia burguesa. As fábulas de Esopo, de La Fontaine que reportam a tempos memoráveis, Esopo ano 6 a.C e La Fontaine ao século XVII, passaram a circular amplamente nos livros de português pelo menos até os anos 70. Com uma nova ordem social para se fortalecer, recorrer às fábulas moralistas significava o esforço de compor um espírito sólido desse novo cidadão.

Já os irmãos Grimm reportam ao século XVIII e Charles Perrault ao século XVII, ambos escreveram contos de fadas. O volume de publicações sobre uma literatura voltada para crianças ganhou grandes proporções, já que para a ordem burguesa a maternidade passa por redefinição que, por sua vez, reinventa também a infância.

Hoje em dia, é possível encontramos uma literatura no Brasil para crianças com escritores especializados no tema. Ruth Rocha é uma dessas escritoras contemporâneas especializada em literatura infantil. No entanto, escritoras que ficaram famosas com uma literatura para adultos também teve o seu momento de escrever para o público infantil. Clarice Lispector foi uma delas.