tag:blogger.com,1999:blog-55919126589670063762024-02-20T17:32:11.472-08:00Mulher e LiteraturaEspaço de publicação de textos literários de escritoras e, também, da crítica literária feminista.Lúcia Leirohttp://www.blogger.com/profile/16329739907951169909noreply@blogger.comBlogger58125tag:blogger.com,1999:blog-5591912658967006376.post-14152499319077878522017-08-17T10:40:00.002-07:002017-08-17T10:40:48.042-07:00Livro: Afrobrasilidades: Túnicas & TurbantesEste livro é resultado de um trabalho visual sobre vestuário e
identidade a partir das amarrações de corpo e de cabeça e do uso da
chita.Trata-se de uma composição sintática e semântica de referência
africana ressignificada na diáspora em razão das diversas circunstâncias
históricas, como a escravidão, por exemplo, e todo o movimento
"sankófico" de olhar com outra perspectiva. A túnica, o turbante e a
chita formam a Afrobrasilidades, nome que dei a esta composição
sintático-visual.<br />
<br />
<div class="issuuembed" data-configid="28697766/51162531" style="height: 300px; width: 400px;">
</div>
<script async="true" src="//e.issuu.com/embed.js" type="text/javascript"></script>Lúcia Leirohttp://www.blogger.com/profile/16329739907951169909noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5591912658967006376.post-34750314526948061592015-10-19T05:46:00.002-07:002015-10-19T05:49:49.340-07:00Kuami ou a educação FEMINISTA PELA ANCESTRALIDADE <div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">Lúcia Tavares Leiro</span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: right;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">UNEB/Salvador</span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: right;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;"><o:p></o:p></span> </div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">Resumo</span></b><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">:
apresentar a narrativa Kuami, de Cidinha da Silva, como uma proposta de
educação feminista pela perspectiva da ancestralidade, isto é, um feminismo que
fala do lugar da epistemologia iorubana, preservada na Bahia pelos terreiros de
candomblé,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>que destaca o protagonismo
das mulheres na construção de uma prática civilizatória.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Neste artigo, usarei o conceito de
ancestralidade, de diáspora, de feminismo e enlaçarei ao conceito de educação
por um viés emancipatório, libertador. </span><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;"><o:p> </o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">Nos estudos
literários, as teorias feministas já são bem conhecidas, haja vista a própria
existência deste Grupo de Trabalho que há exatamente 30 anos vem sendo organizado
por pesquisadoras de todo o país. O GT tem o intuito de reunir pesquisadoras e
pesquisadores que em pequenos grupos temáticos compartilham os resultados de suas
pesquisas sobre a mulher na literatura. Chamo a atenção para a literatura destinada
às crianças, muitas vezes infantilizada tanto pelos escritores quanto pela
própria crítica literária, relegando-a a segundo plano, mesmo quando o escritor
canônico se aventura em escrever para este público. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Apesar da existência dos grupos de trabalho e
de pesquisa nos cursos de Letras e de Pedagogia, o componente curricular nestes
cursos, quando aparece, é ofertado em um único momento em todo o curso. Para
minimizar, os docentes que possuem pesquisa nesta área fazem um recorte dentro da
grade curricular de componentes que não são específicos da literatura. </span><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;"><o:p> </o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">Por estar lecionando
no curso de Pedagogia, venho fazendo uso das categorias de análise das teorias feministas,
como o <i style="mso-bidi-font-style: normal;">gênero</i>, para investigar a
literatura escrita por mulheres para crianças, tentando aproximar as escritoras
das discussões feministas que alicerçam epistemologicamente este GT. Na
literatura infanto-juvenil, as problematizações de gênero no plano ficcional não
são tão frequentes, com raras exceções para <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Pena
de Pato de Tico Tico, Dona Baratinha, Senhora dos Mares</i>, de Ana Maria
Machado; <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Quem tem medo de dizer não?, </i>de
Ruth Rocha<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">, </b><i style="mso-bidi-font-style: normal;">Mamãe Bela, Mamãe Fera,</i><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"> </b>de
Marta Lagarta, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Menino Nito</i>, de Sônia
Rosa, entre outras produções. Nestes textos, tomando como base as personagens
protagonistas, as representações de gênero são questionadas a partir dos
estereótipos de feminilidade e de masculinidade forjados amplamente pelos
contos de fada. Essas representações contribuíram para a formação de um
comportamento de gênero ao longo de séculos, mas que após os anos 60 passaram a
ser questionadas por escritoras e críticas feministas. Do ponto de vista
ficcional, as escritoras em diálogo com esse sistema de gênero, reinscreveram
nos corpos sexuados outras significações. Por isso, não é raro encontrarmos nas
narrativas literárias (e fílmicas) o <i style="mso-bidi-font-style: normal;">jogo
da inversão</i>, esforço em separar o gênero do sexo, pelo menos da forma que
foi concebido pelo discurso hegemônico. A inversão pode ser lúdica, mas não
implode com a estrutura binária e assentada no sexo, afinal inverter é realocar
o gênero nos corpos sexuados. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>No
entanto, nas narrativas para crianças, este é o jogo que mais vemos para
problematizar as relações de gênero.</span><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;"><o:p> </o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">As teorias feministas
modernas e pós-modernas foram desenvolvidas por sujeitos de realidades sociais,
culturais, históricas e geográficas distintas, mas que mantinham como
referência a memória compartilhada. Mas de que memória nós estamos falando? Ao
construirmos a nossa linha do tempo, para usar uma expressão atual, encontramos
vivências de sujeitos baseadas em valores distintos do código hegemônico, com
outras formas de olhar, de ser e de pensar. Pessoas que cresceram ouvindo de suas
avós narrativas em uma linguagem simbólica, cifrada, às vezes incompreensível,
envolvida de mistério e poder. Pessoas que compartilham<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>outras estéticas, outros sabores e afetos. Quando
me refiro a um <i style="mso-bidi-font-style: normal;">feminismo ancestral</i> estou
me reportando a essas vivências de mulheres que, em observância aos
ensinamentos ancestrais, buscam proporcionar melhores condições de vida para si
e para outras mulheres, inserindo o homem neste circuito de afetividades, tornando
a luta política feminista ampla, embora mais focalizada no fortalecimento das
mulheres, por estarem mais vulneráveis dentro de um sistema com fortes resquícios
patriarcal. Neste tipo de narrativa, os papeis dos gêneros são arrefecidos a
ponto de quase não haver presença de conflito entre os sexos ou de qualquer
outra categoria e, quando há, os gêneros são apresentados como um princípio
organizador, fluido, relacional que pode ser desempenhado por qualquer pessoa.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">Kuami, de Cidinha da
Silva, é uma narrativa fabular que insere na dimensão literária questões
fundamentais para os <i style="mso-bidi-font-style: normal;">sujeitos diaspóricos</i>,
isto é, sujeitos pertencentes a grupos étnicos, forçados a saírem de seus
lugares de origem para viverem em outros. Na narrativa em questão, sujeitos que
saíram de diferentes lugares do continente africano em razão do tráfico
negreiro, e dispersos nas colônias, formando um grupo que se eram diferentes
entre si em razão da etnia, eram iguais em condição social. Assim, os afrodescendentes
nascidos nos países colonizados tiveram que aprender com o tempo a se verem de
duas formas: diferentes entre si, mas iguais em uma sociedade de estrutura estamental.
Na modernidade, o conceito de nação e de pertencimento vai impor outra mudança
aos sujeitos diaspóricos: o de se espelhar em um modelo de civilização baseada
no modo de vida europeu. Esta europeização não teve apenas como modelo
Portugal, mas França e Inglaterra que foram decisivos como disseminadores de
uma visão de civilidade e de comportamento que seria imitado por mulheres e
homens em vários países colonizados.</span><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;"><o:p> </o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">Em Kuami, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">o tráfico de escravos</i>, a tentativa de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">apagar a memória afetiva</i> das pessoas e a
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">alienação dos sujeitos</i> são aspectos
estruturantes de uma forma de dominação e aparece na narrativa para mostrar como
as personagens responderão a esta estrutura. Como sair da condição de “escravo”
para o de “liberto”? Questões como ancestralidade, matriarcado, valores
iorubanos, são dimensionados para um discurso literário, político, ancestral,
feminista, lúdico, e pedagógico que torna a fábula uma aventura literária prazerosa
para os leitores e, sobretudo, uma viagem reflexiva. Deste modo, Kuami
sintetiza uma proposta de reunir em um único livro uma discussão feminista
enlaçada à ancestralidade. </span><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;"><o:p> </o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt 4cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10pt; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">Ao
receber Janaína das mãos de Naomi, a Mãe D’Água carregou-a num abraço forte e
cheio de mimos. Olhou os olhos vivos da pequena sereia e sem desviar os seus,
sentenciou: “essa menina vai voar por terras distantes”, “Mares, talvez”,
contemporizou o pai Baiacu. “Não, meu filho, terras” </span><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;"><o:p> </o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">Neste breve, mas
significativo trecho, o matriarcado é figurativizado pelo gesto da mãe
biológica de entregar a filha à mãe espiritual, sugerindo um rito iniciático de
apresentação da criança à comunidade e que a partir daquele momento ela terá a
proteção não apenas do núcleo familiar, mas de todos, daí porque os pais não
são os únicos a cuidar dos filhos. Este rito assemelha-se no candomblé à
entrada da <i style="mso-bidi-font-style: normal;">abiã</i> ao roncó, quando a
mãe biológica entrega a sua filha à yalorixá e a partir deste momento ela
recebe as devidas orientações dadas pela mãe de santo. </span><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;"><o:p> </o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">Resumindo a
narrativa, Kuami é um filhote de elefante cuja mãe foi capturada por caçadores e
colocada em um navio quando ele ainda estava em seu ventre. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Certo dia, já em outras terras, a mãe
conseguiu fazer com que o filho fugisse e a partir deste momento Kuami passa a
viver sozinho na floresta. Janaína encontra Kuami sozinho pastando às margens
do rio. É a partir deste encontro que a narrativa se desenvolve, porque Janaína
se predispõe a procurar a mãe de Kuami. Janaína reúne a comunidade e inicia a
sua jornada, antevista pela Mãe D’Água, de que ela viajaria por terras. A mãe
de Kuami é encontrada e cada um segue o seu caminho. </span><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;"><o:p> </o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">Kuami é a metáfora da
história da diáspora africana no Brasil. A narrativa nos remete à escravidão,
ao tráfico negreiro, e aos sentimentos vividos pelas mulheres africanas que
grávidas ou com seus filhos muito pequenos foram forçadas a sair de grupo
social. O gesto de partir em busca da mãe representa simbolicamente o caminho
que os sujeitos diaspóricos fizeram e fazem para tentar se orientar neste mundo,
transformando a saudade em encontro, em fortalecimento do espírito, em
autoestima, em confiança em si, pois só quem viveu a experiência da solidão, da
orfandade, sabe a importância de se ter a casa cheia. </span><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;"><o:p> </o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">É imbuída desta
confiança e sentimento de irmandade que, ao crescer, Janaína inicia um processo
de autodescoberta, buscando vivenciar outras situações que a desafiem mais e
possam fortalecer os valores recebidos da suas ancestrais. É neste momento que
ela encontra Kuami.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Deste encontro nasce
um sentimento importante dentro da filosofia iorubana – o <i style="mso-bidi-font-style: normal;">sentido de irmandade</i> – sentimento que pelo princípio da ancestralidade
significa mais do que um apoio moral ou psicológico, mas uma consciência que
transcende o imediato consolo, orientando os sujeitos envolvidos para uma
dimensão existencial, uma vivência plena que os liberte.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Kuami é o símbolo do sujeito diaspórico,
capturado antes de nascer, e separado de sua mãe, de sua origem, deixando-o
triste e saudoso. Representa aqueles e aquelas a quem foram negados a
existência e o direito à memória. É Janaína quem irá ativar a memória de Kuami,
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">acolhendo-o afetivamente</i>, outro
fundamento da cosmovisão iorubana, apresentando-o à sua comunidade para que se
fortaleça e possa lutar pela sua liberdade e a de sua mãe, composição
metonímica para a liberdade dos sujeitos diaspóricos brasileiros e da África, continente
matriz e nutriz.</span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">Cidinha da Silva
insere alguns aspectos fundamentais para entendermos o que eu chamo de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">feminismo ancestral</i>: <i style="mso-bidi-font-style: normal;">primeiro</i>, destaca o papel fundamental da
mulher no processo de geração de vidas e, portanto, essencial para a própria
existência humana; <i style="mso-bidi-font-style: normal;">segundo</i>, para além
da vida, apresenta a importância das mulheres para a iniciação das crianças
dentro da dinâmica civilizatória; <i style="mso-bidi-font-style: normal;">terceiro</i>,
insere a diáspora africana de uma perspectiva da mulher; <i style="mso-bidi-font-style: normal;">quarto</i>, destaca o protagonismo e liderança das mulheres em
diferentes situações, sobretudo no enfrentamento às formas de dominação e de
violência, produzindo uma relação de sororidade, de apoio mútuo<i style="mso-bidi-font-style: normal;">; quinto</i>, não infantiliza a criança,
porque faz parte da educação iorubana atribuir funções, dar responsabilidades
às crianças desde cedo, portanto a maternidade não é construída a partir da
dependência da criança à mãe, mas por uma relação de corresponsabilidades e,
por fim, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">sexto</i>, denuncia o
patriarcado colonialista que impõe uma relação de poder e de destruição do
Outro, sobretudo mulheres e crianças, aludindo a este sistema de dominação um caráter
feminicida e infanticida.</span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">Kuami é uma fábula e
como tal repleta de referências simbólicas que interseccionam tradição e
modernidade, fundindo o passado ao presente. As simbologias, que remetem à
cultura iorubana, preservada na Bahia pelos terreiros de candomblé, são
constantes na narrativa, tais como as referências aos Orixás, aos ritos
iniciáticos, à composição familiar clânica, para ficar em alguns exemplos. Outros
símbolos nos remetem ao continente africano, como o elefante, cuja manada é
sempre liderada por uma fêmea, a matriarca, representação resultante de uma
escolha feminista por parte da escritora para significar o candomblé na Bahia, fundado
por mulheres. E se hoje ele pode ser cultuado e respeitado, deu-se pela atuação
combativa e pelos valores ancestrais preservados pelas mulheres. </span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">As referências à
cultura iorubá, etnia que forma a nação ketu de alguns terreiros de candomblé
na Bahia podem ser vistas também pela escolha dos nomes das personagens. Janaína
é um nome atribuído a Yemanjá, Orixá das águas salgadas, que representa a
maternidade, o acolhimento, a afetividade, e que na narrativa Kuami aparece no
comportamento de Janaína e da Mãe D’Água, sobremaneira. A maternidade é um
aspecto importante para os afrodescendentes, por isso aparece com frequência nas
composições literárias dos escritores da diáspora africana, porque sem a mãe
não há ancestralidade e sem esta concepção de mundo, isto é, sem a compreensão
de um caminho realizado pela memória, meio pelo qual se faz a intervenção no
presente, é impossível um projeto civilizatório que nos reúna e nos faça viver
dignamente. Passado e presente estão fundidos e sem memória não há consciência
do presente. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>É importante salientar que
a maternidade vai além da concepção biológica, ela pode ser vivenciada por
qualquer mulher que mantenha uma relação iniciática com a criança, ou seja, uma
relação pautada em rituais, que se dá por gestos e por palavras, fazendo com
que esta criança se sinta pertencida a um espaço, a um grupo como pessoa. Esta
dimensão feminista, baseada na consciência das mulheres da sua importância para
o empoderamento de outras mulheres, a partir de uma concepção baseada na
afetividade, na irmandade, no acolhimento, no fortalecimento da autoestima e no
senso de responsabilidade mútua, faz da narrativa Kuami uma referência para os
estudos feministas na literatura infanto-juvenil. </span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">A literatura de Cidinha da Silva traz esse
ensinamento, daí a sua importância também pedagógica, ao enfatizar a
necessidade da presença do adulto na formação da criança, sem infantilizá-la,
mas dando à dimensão afetiva e iniciática uma relevância para que a criança se
perceba no mundo como pessoa. Segundo Ronilda RIBEIRO (1996, p. 44): “A pessoa
é tida como resultante da articulação de elementos estritamente individuais
herdados e simbólicos. Os elementos herdados a situam na linhagem familiar e
clânica enquanto os simbólicos a posicionam no ambiente cósmico, mítico e
social”. Desta forma, as personagens da narrativa Kuami representam a
ficcionalização da cosmovisão iorubana de pessoa, problematizando para o leitor
o seu lugar na sociedade. </span><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><o:p> </o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Para os sujeitos da diáspora africana, esta
consciência é formada no encontro do sujeito com o mundo, do entendimento dos
seus signos e como este sujeito aparece dentro deste conjunto de signos codificados
pelo discurso hegemônico e de que forma ele irá rasurar este código para que a
sua voz seja ouvida e influente:</span><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><o:p> </o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt 4cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">No dia seguinte, Janaína começa a viagem de saída do rio.
Ao chegar à cabeça das águas, ela ouve um barulho forte de sucção. Abre bem os
olhos e vê uma mangueira. Sustentando-a duas abas imensas e entre elas dois
olhos refundíssemos. “Conheço este bicho!” Ela grita depois de juntar as patas
à mangueira, às abas, e aos olhos e formar uma imagem. Nunca havia visto um
deles por aquelas bandas, aliás, nunca soubera de sua existência por ali. (DA
SILVA)</span><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p> </o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Este fragmento é elucidativo para
compreendermos como o conhecimento é processado pelas pessoas. Da mesma forma
que Janaína identifica o elefante por meio da combinação de suas partes, o
mundo no qual vivemos poderia ser comparado a um imenso “elefante” fragmentado
e desconhecido. Para que sejamos sujeitos deste mundo precisamos observá-lo,
ligar as partes desta história para, enfim, significá-la pelo nosso olhar e não
pelo filtro do Outro. O trecho citado sugere que o conhecimento é feito por
meio de uma viagem, portanto de um deslocamento físico ou epistemológico, de um
encontro com o diferente, o estranho, de um ajuste imagético a referências
conhecidas, da existência do Outro como ser, mesmo com as suas “maluquices”. </span><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><o:p> </o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Janaína é uma personagem feminista e é deste
lugar que a narrativa se desenvolve e, por conseguinte, o conhecimento de mundo
é gerado. Esta escolha no plano da ficção resulta de uma posição de gênero da
escritora, tanto por trazer a menina para um protagonismo que constrói o enredo
ficcional, quanto por transformar esse protagonismo em um movimento de
consciência que alcança a leitora (ou o leitor), janaínas em potencial. </span><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;"><o:p> </o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">É desta forma que a
cosmovisão iorubana pode ser tratada como projeto civilizatório em Kuami,
pautado em um protagonismo de mulheres, com uma proposta política
emancipatória, por isso feminista, ancestralizada e pedagógica. A fábula
desperta em cada leitor uma reflexão sobre a sua condição na sociedade, torna
cada leitora e leitor janaínas e kuamis prontos para acolher, se comprometer e
(se) libertar.</span><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;"><o:p> </o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">Referências:</span><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;"><o:p> </o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">DA SILVA, Cidinha. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Kuami.</b> Belo Horizonte: Nandyala, 2010.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">RIBEIRO, Ronilda Yakemi. <b>Alma Africana no
Brasil. Os Iorubás. </b>São Paulo: Oduduwa, 1996.</span><br />
</div>
<a rel="license" href="http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/"><img alt="Licença Creative Commons" style="border-width:0" src="https://i.creativecommons.org/l/by-nc-nd/4.0/88x31.png" /></a><br />O trabalho <span xmlns:dct="http://purl.org/dc/terms/" href="http://purl.org/dc/dcmitype/Text" property="dct:title" rel="dct:type">KUAMI OU A EDUCAÇÃO FEMINISTA PELA ANCESTRALIDADE</span> de <a xmlns:cc="http://creativecommons.org/ns#" href="http://mulhereliteratura.blogspot.com.br/2015/10/kuami-ou-educacao-feminista-pela.html" property="cc:attributionName" rel="cc:attributionURL">LÚCIA TAVARES LEIRO</a> está licenciado com uma Licença <a rel="license" href="http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/">Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional</a>.<br />Baseado no trabalho disponível em <a xmlns:dct="http://purl.org/dc/terms/" href="http://mulhereliteratura.blogspot.com.br/2015/10/kuami-ou-educacao-feminista-pela.html" rel="dct:source">http://mulhereliteratura.blogspot.com.br/2015/10/kuami-ou-educacao-feminista-pela.html</a>.
Lúcia Leirohttp://www.blogger.com/profile/16329739907951169909noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5591912658967006376.post-91390156070627530792012-06-23T16:08:00.002-07:002012-06-23T17:12:34.682-07:00BRANCA DE NEVE: UMA HISTÓRIA SOBRE PODER, BELEZA E GÊNERO<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhA2oj-bASCov_a2SBU7w5GfMX7NH0KB67a4vVBqHXU4opwkOqWmfisETlcdrYhxp7PO6NxiL3HY7Q1JAJoM2wYv-_xmMbQRhDCJqapYNVrYADareSzQZKQHFsx05MEW6UHM7AEIhjCnc4/s1600/snow-sequel.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; cssfloat: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="213" rca="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhA2oj-bASCov_a2SBU7w5GfMX7NH0KB67a4vVBqHXU4opwkOqWmfisETlcdrYhxp7PO6NxiL3HY7Q1JAJoM2wYv-_xmMbQRhDCJqapYNVrYADareSzQZKQHFsx05MEW6UHM7AEIhjCnc4/s320/snow-sequel.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Chris Hemsworth e Kristen Stewart. Foto: divulgação</td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: large;"><em>"Beleza é o meu poder.</em></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: large;"><em>Lábios vermelhos como o sangue, cabelos pretos como a noite...Me dê seu coração, minha querida Branca de Neve." (Ravenna)</em></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">O conto de <strong>Branca de Neve</strong> escrito pelos Irmãos Grimm no início do século XIX, portanto, momento em que a burguesia estava ampliando as suas ideias e disseminando valores pela Europa, mas, sobretudo, em outros continentes, tem a sua primeira edição em 1812 e narra a história de uma princesa órfã, Branca de Neve, que é expulsa do castelo ainda criança pela madrasta que percebe estar perdendo poder para a menina que começa a despontar e a se destacar sexualmente. Esta sensação de perda de poder é figurativizado pela perda da juventude, fase que será associada à beleza, para justificar o destino último de realização da mulher pelo casamento. Este é um elemento-chave no conto e é em torno deste aspecto que uma nova sociedade irá se organizar. É importante ressaltar que o casamento na época ocorria muito cedo entre as mulheres, não sendo rara a preocupação dos pais quando a jovem chegava aos vinte anos sem ter contraído matrimônio. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhsZ8tcySzYYVwFxWRnOjY00bTsgCAaaa7vYAPmZHyA6hqs5g12V2vEaWqmXuK1vd_d-WfwAVUyrtPGjh7WM6nmA3j6nJ2FaqTyxMaVtplwN6zo0JHhihAtgU-LlLThK9QPZXGtKyYF7i4/s1600/Ravenna.png" imageanchor="1" style="clear: right; cssfloat: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" rca="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhsZ8tcySzYYVwFxWRnOjY00bTsgCAaaa7vYAPmZHyA6hqs5g12V2vEaWqmXuK1vd_d-WfwAVUyrtPGjh7WM6nmA3j6nJ2FaqTyxMaVtplwN6zo0JHhihAtgU-LlLThK9QPZXGtKyYF7i4/s1600/Ravenna.png" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Charlize Theron/Ravenna. Foto: divulgação</td></tr>
</tbody></table>
<span style="font-size: large;">Não sabemos ao certo o quanto foi alterado durante a compilação pelos Irmãos Grimm, mas é sabido que as mudanças ocorreram em função de uma nova visão de mundo, um modelo de sociedade que estava se reestruturando. Neste sentido, coube aos intelectuais da época absorver as narrativas populares e introduzir nelas a ideologia burguesa a fim de popularizar e universalizar o modelo de relações que atravessariam as narrativas ficcionais na modernidade, sobretudo as do período romântico. Portanto, o interesse pelo popular no século XVIII e XIX coincide com a revolução burguesa e, portanto, reúne dois movimentos discursivos: o nacionalista, que preparava homens e mulheres para o amor à pátria, e o amor romântico, que preparava homens e mulheres para o exercício da intimidade, das relações familiares. Deste modo, não podemos desconsiderar que os contos de fada fazem parte de um projeto de reconstrução do tecido social, orientando mulheres e homens mentalmente, modificando a visão de mundo e o seu comportamento diante de si e do outro. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjQppx14Pv1-Z_dcTWocj2FZOiVMEDFlNCkvxVFEqQAuB1CQtqSrTHNrG7pPsF9vcthZXN6vGZUl91gixkpJ4Rw7Umlt7zqzv03VAbykqfCt2zP0Lfm8SpD2BmeAfvc_XM6ANNbeWBrgGg/s1600/ravenna-leite.png" imageanchor="1" style="clear: right; cssfloat: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="200" rca="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjQppx14Pv1-Z_dcTWocj2FZOiVMEDFlNCkvxVFEqQAuB1CQtqSrTHNrG7pPsF9vcthZXN6vGZUl91gixkpJ4Rw7Umlt7zqzv03VAbykqfCt2zP0Lfm8SpD2BmeAfvc_XM6ANNbeWBrgGg/s320/ravenna-leite.png" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Charlize Theron/Ravenna. Foto: divulgação</td></tr>
</tbody></table>
<span style="font-size: large;">O conto de fadas de Jacob e Wilhelm Grimm sobre a menina órfã expulsa pela madrasta, devido ao medo desta perder o poder, possui uma estrutura interna que pode ser analisada a partir de elementos diferentes. Vou me apropriar de dois aspectos da narrativa que nos contos de fada têm papel preponderante: o lugar e a personagem. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none;">
<span style="font-size: large;">Em Branca de Neve dos Irmãos Grimm, a protagonista é criada pelo pai até a idade de aproximadamente sete anos, embora no conto não haja essa referência exata, subtende-se pela articulação da linguagem da menina durante o diálogo com o caçador na floresta. Até então, sabe-se pouco sobre a vida da criança, apenas que perdera a mãe e que depois fora criada pela madrasta em segunda núpcias do rei. A madrasta, no decorrer do tempo, resolve mandá-la para a floresta onde o caçador (ou o servo segundo algumas traduções) lhe tiraria o coração e as vísceras e as levaria para a rainha. Branca de Neve, neste momento, pede clemência ao caçador que se apieda, levando no lugar do seu coração e vísceras, as partes de um cervo. Durante o tempo em que a madrasta acredita ter matado Branca de Neve, esta passa a viver com sete anões que, enquanto provém a casa, em troca, exigem que Branca de Neve cumpra as tarefas domésticas. A rainha descobre que Branca de Neve está viva e resolve pessoalmente matá-la, transformando-se em mulher do povo. A rainha faz três visitas à Branca de Neve: na primeira leva um cordão com o qual aperta o corpete da jovem; na segunda, leva um pente envenenado e na terceira uma maçã. Em todos os momentos, Branca de Neve foi advertida e ajudada pelos sete anões que a despertaram, exceto da última vez, quando apenas o príncipe consegue fazê-lo, no momento em que movimenta Branca de Neve da caixa de vidro e, em razão do movimento, acaba expelindo a maçã envenenada. Branca de Neve acorda e casa-se com o príncipe. </span></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="http://3.bp.blogspot.com/-iahm3XvMXX0/T-ZWIM-1YZI/AAAAAAAABoE/_cd3dgQ1FGE/s1600/ca%C3%A7ador.png" imageanchor="1" style="clear: right; cssfloat: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="212" rca="true" src="http://3.bp.blogspot.com/-iahm3XvMXX0/T-ZWIM-1YZI/AAAAAAAABoE/_cd3dgQ1FGE/s320/ca%C3%A7ador.png" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Chris Hemswoth (Eric/Caçador). Foto: Divulgação</td></tr>
</tbody></table>
<span style="font-size: large;">Se tomarmos a protagonista como condutor da nossa análise, veremos que, do ponto de vista espacial, a sua movimentação se dá em torno de três espaços: </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">1) <strong>Em seu castelo</strong>, na verdade de seu pai, depois que a madrasta usurpa de Branca de Neve que é dada como morta;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">2) <strong>Na floresta</strong>, espaço do perigo, do conflito e da solidão;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">3) <strong>Na casa dos sete anões</strong>, espaço da acolhida e do restabelecimento do equilibro, da aprendizagem do ser mulher – cuidar da casa e dos filhos (neste caso os sete anões);</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">4) <strong>No castelo do príncipe</strong>, lugar no qual Branca de Neve poderá aplicar o que aprendeu com os anões, isto é, ser boa esposa e mãe. No conto, este castelo não aparece. É uma promessa;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhs28lrBk0gBzTi2EFsQ6Rvcy6M-1YbjuNnfa8HCNy-pJ6ANpzNc5fOyWxSivjoFiCtLKgTZew5uqrwRHrEN5yZXqAOS7qzqQRrrgd0S7dxeJMG7Age1i6IZGMFlhVY3BVb0ctCr-CHDto/s1600/BN-ca%25C3%25A7ador.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; cssfloat: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="203" rca="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhs28lrBk0gBzTi2EFsQ6Rvcy6M-1YbjuNnfa8HCNy-pJ6ANpzNc5fOyWxSivjoFiCtLKgTZew5uqrwRHrEN5yZXqAOS7qzqQRrrgd0S7dxeJMG7Age1i6IZGMFlhVY3BVb0ctCr-CHDto/s400/BN-ca%25C3%25A7ador.jpg" width="400" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Foto: divulgação</td></tr>
</tbody></table>
<span style="font-size: large;">O que acontece com Branca de Neve no filme de Rupert Sanders em relação aos lugares é interessante do ponto de vista de gênero. No filme, a expulsão de Branca de Neve (Kristen Stewart) não acontece. Presa no calabouço pela madrasta, a rainha Ravenna (Charlize Theron), após atingir a juventude, a protagonista encena o papel de jovem indefesa para o irmão, Finn (Sam Spruell), que se dirige à cela, a pedido da irmã, para tirar-lhe o coração. Antes de sua chegada, um pássaro pousa na janela e aponta para um prego de ferro com o qual Branca de Neve golpeará o irmão da madrasta. A fuga (e não expulsão) é um diferencial importante em relação ao conto, na medida em que a personagem enfrenta o perigo e decide sair sozinha do castelo no qual é cativa, orientada apenas por um elemento mágico, os pássaros. Depois de alcançar a sua liberdade, encontra um cavalo branco deitado na praia à sua espera, que a leva para a Floresta Negra, um lugar onde Ravenna não tem força.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgD4THsk0KIPnsORibJ3heqLGyvxQc5MjgNnIiOr1TPJqW2uvVQ9qcHp68AauiSflIdddNYGIOAhi2-K0pFFcQejPaTinCZ_AFNq_dJu9WZ2axLrb8qQ88yMk9iCRGWsHhmHg0TpW3UBNk/s1600/BN-ca%C3%A7ador2.png" imageanchor="1" style="clear: right; cssfloat: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="213" rca="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgD4THsk0KIPnsORibJ3heqLGyvxQc5MjgNnIiOr1TPJqW2uvVQ9qcHp68AauiSflIdddNYGIOAhi2-K0pFFcQejPaTinCZ_AFNq_dJu9WZ2axLrb8qQ88yMk9iCRGWsHhmHg0TpW3UBNk/s320/BN-ca%C3%A7ador2.png" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Foto: divulgação</td></tr>
</tbody></table>
<span style="font-size: large;">Esta passagem de um espaço a outro pela protagonista mostra a relação complexa e simbólica do castelo como lugar de poder político, de referência familiar (visão burguesa), mas também, no caso de Branca de Neve, de sofrimento. Já a floresta continua sendo o lugar dos perigos, mas a jovem consegue sobreviver, até que a madrasta manda o irmão juntamente com o caçador, Eric (Chris Hemsworth) para “caçá-la”. No entanto, ao ver Branca de Neve, o caçador se encanta por ela e desiste de matá-la, atacando os soldados da rainha e escapando do irmão, ao saber que eles não cumpririam o acordo de trazer de volta a sua esposa, morta pelo próprio Finn. O caçador tenta seguir seu caminho, embora Branca de Neve tente persuadi-lo a protegê-la. Durante a travessia pela floresta, o caçador ensina Branca de Neve a vestir-se adequadamente para a guerra, rasgando-lhe a saia, e deixando-a apenas de calça. Além disso, aprende a se defender e a atacar com a faca. Chegando a uma vila, encontram um grupo formado só por mulheres, já que os maridos tinham ido embora, que possuíam cicatrizes no rosto, estratégia usada como forma de se defenderem da madrasta que buscava a beleza nas mulheres para “aspirá-la” e permanecer jovem. Neste momento acontece a revelação para o caçador de que Branca de Neve é uma princesa. Ele pressente problemas e foge, mas ao se afastar percebe que a vila está sendo atacada pelo irmão da rainha e volta para ajudar as mulheres e crianças. Quando o caçador e Branca de Neve se afastam da vila, são capturados por oito anões, sendo que um deles morre em combate quando Finn os acha. No filme, não há referência à casa dos anões porque não há rito de passagem para a mulher em aprender os afazeres domésticos, pois o rito de passagem de Branca de Neve não consiste em transformá-la em esposa e mãe, mas em guerreira, portanto não caberia no filme fazer referência à casa dos sete anões. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<span style="font-size: large;">O rito de passagem ocorre na floresta, enfrentando os inimigos da rainha e a própria, que se metamorfoseia no amigo de infância de Branca de Neve, William, que passou a seguir Branca de Neve disfarçado de arqueiro da rainha, meio pelo qual pôde participar da busca por Branca de Neve e, assim, se aproximar da jovem. O cordão e o pente, elementos que representam feminilidade e vaidade feminina foram suprimidos e sutilmente substituídos pela dança, que a personagem não realiza com graça, uma forma de desfetichizar ou desestereotipar qualquer traço de sensualidade, separando o significado do significante. No entanto, mesmo desajeitada, consegue atrair a atenção dos homens ali presentes.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhELrsrIxZp7xU33KRDGU4_RpQ3U5zMTpz-XGSZtMQIuBosEIIY3xBf5Qu3Qb9P6n4i0qSdHPFveB3NcWntOIdBk3GLEgkUq6BpjdRi9DMjz9n4PF2-KL43WffW3ZcwQY6Uas0sEcC3QfE/s1600/ravenna-sacada.png" imageanchor="1" style="clear: right; cssfloat: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="236" rca="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhELrsrIxZp7xU33KRDGU4_RpQ3U5zMTpz-XGSZtMQIuBosEIIY3xBf5Qu3Qb9P6n4i0qSdHPFveB3NcWntOIdBk3GLEgkUq6BpjdRi9DMjz9n4PF2-KL43WffW3ZcwQY6Uas0sEcC3QfE/s320/ravenna-sacada.png" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Charlize Theron. Foto: Divulgação</td></tr>
</tbody></table>
<span style="font-size: large;">Em se tratando dos elementos simbólicos, a maçã permanece no filme, mas a mordida ocorre em função de um jogo de infância, do desejo de “revidar” o que o amigo fez quando eram crianças: ele ofereceu a maçã, mas mordeu em seguida, não oferecendo a Branca de Neve. No momento em que ela se depara com a mesma cena de infância, Branca de Neve é vencida pelo espelho, que reflete uma frustração infantil e que na fase adulta ela tenta desforrar. Diferentemente do conto, cujo desejo centra-se na maçã, o objeto de desejo que representa o amor, no filme a maçã não é o objeto de desejo, mas o poder, já que o que motivou Branca de Neve a mordê-la não foi a cor ou a textura do fruto, mas a revanche. Os signos militaristas percorrem toda a narrativa fílmica, mostrando uma jovem preocupada muito mais em correr riscos, competir, desforrar, vingar-se, do que em ser objeto de desejo de outrem. Prova é que ela parece desatenta aos predicados dos personagens masculinos, com raras passagens de troca de olhares com o caçador. O jeito estranho da personagem, muitas vezes atribuído a falta de competência profissional, coincide mais com um deslocamento que talvez nem mesmo o diretor soubesse captar e que nem é sempre fácil: como desestereotipar a mulher sem resvalar numa versão masculinizada?</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjXrZTMjMDk88usZirQAZ-0zX0st5lPCXLF0XkZUhUdbJfMsrM_dUqJcVnzFK1LdJiQiG7s7H_yOsULjQjtEc5nfbRXkfQb-dOMUl5t4KQnzBMjGC7QlEDShGu6d_UeqWEidmNJinKgZJw/s1600/BN-floresta.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; cssfloat: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="183" rca="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjXrZTMjMDk88usZirQAZ-0zX0st5lPCXLF0XkZUhUdbJfMsrM_dUqJcVnzFK1LdJiQiG7s7H_yOsULjQjtEc5nfbRXkfQb-dOMUl5t4KQnzBMjGC7QlEDShGu6d_UeqWEidmNJinKgZJw/s320/BN-floresta.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Foto: divulgação</td></tr>
</tbody></table>
<span style="font-size: large;">A beleza parece não pautar os anseios de Branca de Neve, desejosa de reaver o poder usurpado pela madrasta. No conto, há a promessa de casamento e de fazer parte do castelo do príncipe, na condição de esposa, já no filme, Branca de Neve retorna ao seu castelo, herdado dos pais e usurpado pela rainha. Deste modo, o desenvolvimento psicossexual de Branca de Neve é atenuado em prol da busca pela sua emancipação política, social e econômica e do reino. Se no conto, o desfecho resume a realização pessoal da mulher por meio do amor e do casamento, no filme os dois são suprimidos, ou pelo menos não são principais, sendo a realização política e econômica o condutor das ações de Branca de Neve. No entanto, apesar desta percepção, não posso deixar de comentar um aspecto importante: ela só se sente encorajada depois que é beijada pelo caçador. É como se ela tivesse absorvido a força do amor (o bem) e em razão deste ter se inspirado a conduzir um exército para combater a rainha (o mal). Coincidência? Acidente? No cinema, as cenas não são acidentes, mas têm um propósito, dizem algo. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgDn1WV8hcNtr9Jd6LkEqwG-n3C7wIsKDVNe73YwxIrkbW9zkrCiFaHIibNagrH4eG8LWq33TGwJKpYngzepaipfkoYAMRhDs9m4qgbyT361geV7AHC3mZBeH-lTOBbSNahxC80rUoKQ-U/s1600/BN-armadura.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="220" rca="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgDn1WV8hcNtr9Jd6LkEqwG-n3C7wIsKDVNe73YwxIrkbW9zkrCiFaHIibNagrH4eG8LWq33TGwJKpYngzepaipfkoYAMRhDs9m4qgbyT361geV7AHC3mZBeH-lTOBbSNahxC80rUoKQ-U/s320/BN-armadura.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Foto: divulgação</td></tr>
</tbody></table>
<span style="font-size: large;">O final aberto pode significar uma ruptura com os filmes mainstreams, tão ao gosto do público, afinal, muitos torciam pelo final feliz apoteótico com uma festa de casamento ou simplesmente um beijo com o par romântico, mas, também, pode estar relacionado à possibilidade de uma continuação, o que é muito provável já que o filme foi bem acolhido pelo público. </span><br />
<br />
<strong><span style="font-size: large;">Ficha Técnica:</span></strong><br />
<span style="font-size: large;"><br /></span><br />
<span style="font-size: large;">Diretor: Rupert Sanders</span><br />
<span style="font-size: large;">Elenco: Kristen Stewart, Chris Hemsworth, Charlize Theron, Ian McShane, Toby Jones, Nick Frost, Ray Winstone, Sam Claflin, Bob Hoskins, Eddie Marsann, Lily Cole, Sam Spruell.</span><br />
<span style="font-size: large;">Produção: Sam Mercer, Palak Patel, Joe Roth</span><br />
<span style="font-size: large;">Roteiro: Hossein Amini, Evan Daugherty</span><br />
<span style="font-size: large;">Fotografia: Greig Fraser</span><br />
<span style="font-size: large;">Duração: 129 min.</span><br />
<span style="font-size: large;">Ano: 2012</span><br />
<span style="font-size: large;">País: EUA</span><br />
<span style="font-size: large;">Gênero: Aventura</span><br />
<span style="font-size: large;">Cor: Colorido</span><br />
<span style="font-size: large;">Distribuidora: Paramount Pictures Brasil</span><br />
<span style="font-size: large;">Estúdio: Roth Films / Universal Pictures </span><br />
<span style="font-size: large;">Classificação: 12 anos</span></div>Lúcia Leirohttp://www.blogger.com/profile/16329739907951169909noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-5591912658967006376.post-89354609464595946492012-04-02T14:04:00.000-07:002012-04-02T14:04:06.308-07:00CURSO DE EXTENSÃO LITERATURA INFANTIL<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;">Os registros fotográficos do Curso Literatura Infantil e Juvenil, além de um breve texto reflexivo, estão em outro blog meu: </span><a href="http://literaturaeeducacao-uneb.blogspot.com.br/"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;">http://literaturaeeducacao-uneb.blogspot.com.br/</span></a><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;">. </span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;">Confiram.</span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjoST4gIYjjdcRuVLel6MizT5em77dL9Yd2JYwjerSgn0emB6sTOpypvU9pAOe7qO5EKa6NS0iQPmCG6rKkuMOHs7GO_MAwPnQmJseNlqqi1JGHvkSzwCnJe78hwsFEpWqqbGJQ6ikTkwg/s1600/DSC00136.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" dea="true" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjoST4gIYjjdcRuVLel6MizT5em77dL9Yd2JYwjerSgn0emB6sTOpypvU9pAOe7qO5EKa6NS0iQPmCG6rKkuMOHs7GO_MAwPnQmJseNlqqi1JGHvkSzwCnJe78hwsFEpWqqbGJQ6ikTkwg/s320/DSC00136.JPG" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>Lúcia Leirohttp://www.blogger.com/profile/16329739907951169909noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5591912658967006376.post-5826924960929466842012-03-31T16:18:00.001-07:002012-04-01T16:53:34.661-07:00A Menina do Dente Mole, de Nadja Nunes<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjS5btL3o75vhRGed-RASsPz_d8btLlp_DR_X4DhBBZTjXJzF0mUESDWtmFJ0FoRGwkvsdJ7gCSwqkg8ZnCYbiovyFBNytAE9UeReOZUFcPwCGzNnWeX5udY7BCiP4Z8C9ZXAN78fJFwlM/s1600/dente-mole.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" dea="true" height="227" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjS5btL3o75vhRGed-RASsPz_d8btLlp_DR_X4DhBBZTjXJzF0mUESDWtmFJ0FoRGwkvsdJ7gCSwqkg8ZnCYbiovyFBNytAE9UeReOZUFcPwCGzNnWeX5udY7BCiP4Z8C9ZXAN78fJFwlM/s400/dente-mole.jpg" width="400" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;">Quando a escritora Nadja Nunes lançou o seu primeiro livro <strong>A Menina que Tinha Medo do Vento</strong>, disse naquele momento que era uma debutante com o talento das veteranas. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;">Em <strong>A Menina do Dente Mole</strong>, a escritora baiana confirma o que havia dito. Desta vez, nos conduz à nossa memória, chamando-nos a atenção para uma das experiências mais marcantes na vida de uma criança: <em>a perda dos dentes de leite. </em></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;">Essa experiência é narrada por meio de uma linguagem ágil, divertida e cheia de peripécias, estas realizadas pela protagonista, Jujubinha, uma menina inquiridora e esperta, que faz e desfaz a tessitura narrativa com as idas e vindas enunciativas próprias das crianças que começam a interagir com o mundo, buscando sentidos para os seus momentos tão peculiares. É em razão destes momentos que Jujubinha conversa com a sua avó, uma mulher sábia, que encontra respostas, ou pelo menos induz a menina a encontrá-las, para as suas dúvidas. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;">A força da protagonista é tão marcante que a voz da narradora por vezes cede à vontade da menina que conduz o movimento da narrativa e da leitura. No texto, Jujubinha pede à avó que postergue a retirada do dente mole, no que é atendida com a intervenção da Fada do Dente Mole, mas quando ela vê as amiguinhas do colégio sem os dentes, muda de ideia, e pede que a avó fale novamente com a Fada para proceder à retirada. Neste ínterim, a avó vai negociando com o tempo e atenuando a ansiedade da menina, até que o dente é retirado sob os olhos admirados da neta. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhmgtT4Y6nStBmZ150tJ4XbRmh-heIXQDgLYdeGUBumjMc7Xl3bbalqmfwL14MNgAb0TKtEpqdmXfxNTj5Kn54W2zx4gF_h9w0sx043pI3XEfnvRQ96Qcn7m1oQMckw4cGzsKiQQwkroIg/s1600/nadja_nunes.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" dea="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhmgtT4Y6nStBmZ150tJ4XbRmh-heIXQDgLYdeGUBumjMc7Xl3bbalqmfwL14MNgAb0TKtEpqdmXfxNTj5Kn54W2zx4gF_h9w0sx043pI3XEfnvRQ96Qcn7m1oQMckw4cGzsKiQQwkroIg/s1600/nadja_nunes.jpg" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;">Jujubinha e a sua avó são inseparáveis e dessa relação nascem as histórias mais mirabolantes e significativas para a vida da menina. Percebemos também que a interação entre a avó e a menina transforma a vida de ambas, pois é por meio desta relação que se estabelece afetivamente a ponte que une gerações distantes, facilitando para a menina as experiências das perdas, afinal trata-se de uma parte do seu corpo que se separa, e para a avó que reinventa a sua identidade ao atuar como agente facilitador desse processo. A avó, assim como a mãe, é um pouquinho de cada coisa, inclusive “sabe até tirar dentes”.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><strong>A Menina do Dente Mole</strong> é uma narrativa encantadora que certamente cairá no gosto das crianças e adultos. E como é uma história que nos faz lembrar outros tempos, recordo-me de que a minha mãe costumava guardar os dentes de leite em uma caixa, assim como fazia com o primeiro corte dos nossos cabelos (retirava uma ponta, prendia uma das extremidades e guardava). Existem ritos familiares que às vezes se perdem no tempo, mas as experiências jamais serão esquecidas, afinal quem não se lembra do momento em que o primeiro dente de leite começou a amolecer? Diante do espelho, com o dedinho indicador, balançávamos para trás e para frente, num misto de curiosidade, medinho, sentindo já as primeiras mudanças que o tempo nos trazia. E como é importante ter uma avó para nos confortar nessas horas. </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial; font-size: large;">NUNES, Nadja. <strong>A Menina do Dente Mole</strong>. Salvador: Ed. Contexto & Arte, 2011.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial; font-size: large;">O livro pode ser encontrado na Livraria Cultura e na Editora da UNEB. 3117-5342 - <a href="http://eduneb.uneb.br/">http://eduneb.uneb.br/</a></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Arial; font-size: large;"><strong>Imagens da noite de autógrafos na Livraria Cultura</strong></span></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEghnQKTl2h2idMKPTsLh-aDiQr-WGPEf9IZFqKBMlSzW7u8R_3lHdIYtPNjkyovYu4G1Xvjio4vbIUNk1umTF-QVeYW5YkdLIvylonsOhQEuZdk6PifNbQCHqEzQfszhFdQAipdpZqZ9O4/s1600/autografo1.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" dea="true" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEghnQKTl2h2idMKPTsLh-aDiQr-WGPEf9IZFqKBMlSzW7u8R_3lHdIYtPNjkyovYu4G1Xvjio4vbIUNk1umTF-QVeYW5YkdLIvylonsOhQEuZdk6PifNbQCHqEzQfszhFdQAipdpZqZ9O4/s320/autografo1.png" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">A escritora autogrando o livro para os meus sobrinhos, Lethicia e Leandro</span>.</div>
<div style="text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhpq4Bum9rnU8xs-NEEsHod6auEpXqDbmQJJWgynqeQSUqAd5EMQK1p15WL-UvOyzrG14kc53jQTKyNSc9JgAhTUXg39KljhRXrIlss-wFbacmLEIgHYXkiyrWxiHgOnDai5CfIGuVQfmk/s1600/leth-meninadentemole.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" dea="true" height="241" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhpq4Bum9rnU8xs-NEEsHod6auEpXqDbmQJJWgynqeQSUqAd5EMQK1p15WL-UvOyzrG14kc53jQTKyNSc9JgAhTUXg39KljhRXrIlss-wFbacmLEIgHYXkiyrWxiHgOnDai5CfIGuVQfmk/s320/leth-meninadentemole.png" width="320" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">A minha sobrinha lendo o autógrafo.</span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiGp7zPirbGyC_jgbXFFPnW7dnGJwspE81vUUQth3ApZqqOgFdKu-pl9vZ9AmFn7AyELYO5Mkh7uRdgLDuHDH43j6i68MKiY6VWbPZQAfmmvbKyeoW3WC-3rOFnBYcyDm491bCJFA4XKJA/s1600/autografo2.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" dea="true" height="239" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiGp7zPirbGyC_jgbXFFPnW7dnGJwspE81vUUQth3ApZqqOgFdKu-pl9vZ9AmFn7AyELYO5Mkh7uRdgLDuHDH43j6i68MKiY6VWbPZQAfmmvbKyeoW3WC-3rOFnBYcyDm491bCJFA4XKJA/s320/autografo2.png" width="320" /></a></div>
<div align="center">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">A escritora, Nadja Nunes, com os meus sobrinhos. </span></div>
<div align="center">
<br /></div>
<div align="center">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;">E para quem quer ver ao vivo a escritora e Júlia, a neta que inspirou Jujubinha, é só conferir outros dias e locais de lançamento. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgtVy73QlSgobI4R7j_JuFxRw8vFO9Ysfg4wlMosmafbQYKuBD7Gg3l0x9mNgHDXiyTwqAyEC-OaxEcFlirs6T8WoFNe6lMcqHVIY_IEXxDutJXATY7_cu_eL8NSO1qkG0-B-vk6J2wFgw/s1600/box22_livro.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" dea="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgtVy73QlSgobI4R7j_JuFxRw8vFO9Ysfg4wlMosmafbQYKuBD7Gg3l0x9mNgHDXiyTwqAyEC-OaxEcFlirs6T8WoFNe6lMcqHVIY_IEXxDutJXATY7_cu_eL8NSO1qkG0-B-vk6J2wFgw/s1600/box22_livro.jpg" /></a></div>Lúcia Leirohttp://www.blogger.com/profile/16329739907951169909noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5591912658967006376.post-62742414611806526052012-03-12T04:19:00.000-07:002012-03-12T04:19:24.038-07:00CURSO DE EXTENSÃO - LITERATURA INFANTIL<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: "Courier New", Courier, monospace; font-size: x-large;">Começa no próximo sábado, dia <strong>17 de março, </strong>às <strong>8h</strong> (pontualmente)<strong>,</strong> o curso de extensão sobre <span style="color: red;">Literatura Infantil</span> no <strong>Departamento de Educação da UNEB</strong>, <strong>sala 07</strong> (provavelmente).</span></div>Lúcia Leirohttp://www.blogger.com/profile/16329739907951169909noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5591912658967006376.post-9836894896470973122012-02-12T14:20:00.000-08:002012-02-12T14:37:07.351-08:00DONA BARATINHA, de Ana Maria Machado - FTD<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhL5OXpg0_rxnNxNUAhDAYEXUNm_BetZgme28RoWOFXSRzZLBK1DyVgbSPsNG4KAcuI9vyGF9FHxe9pV0fwFlLx9LTWKxbli7ojiWj-n6qQHaNoYKGttMyHXE8O8briv-h_kvvD9yBgQRY/s1600/Dona_Baratinha_-_Ana_Maria_Machado2.JPG" imageanchor="1" style="clear: right; cssfloat: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="200" sda="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhL5OXpg0_rxnNxNUAhDAYEXUNm_BetZgme28RoWOFXSRzZLBK1DyVgbSPsNG4KAcuI9vyGF9FHxe9pV0fwFlLx9LTWKxbli7ojiWj-n6qQHaNoYKGttMyHXE8O8briv-h_kvvD9yBgQRY/s200/Dona_Baratinha_-_Ana_Maria_Machado2.JPG" width="175" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<em>À memória da professora Doralice Alcoforado, professora da UFBA, pesquisadora incansável da literatura oral</em></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Peter Hunt, um dos teóricos e críticos contemporâneos da Literatura Infantil, traz uma questão em seu livro, entre várias, com a qual concordo, sobre a crítica literária atual: ela tem demorado a reconhecer e a tratar a literatura infantil com seriedade por considerá-la um texto "menor", talvez refletindo a visão que o adulto tem da criança, principalmente quando se trata da sua instrução. Ana Maria Machado, uma das mais conhecidas escritoras, atual presidenta da Academia Brasileira de Letras, para a honra dos nossos "erês" e "curumins", nunca deixou de perceber a importância da formação literária na criança para o seu desenvolvimento, e sempre nos brindou com textos criativos e prazerosos de ler. O livro em questão foi ilustrado por Maria Eugênia.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O livro D. Baratinha, que chegou às minhas mãos por uma cortesia da Editora FTD, é um desses livros que, a meu ver, não poderia deixar de estar presente no pequeno acervo das crianças. O texto é um reconto da tradição oral portuguesa, muito embora saibamos que, em se tratando da literatura infantil, a sua origem está mesmo na cultura popular, nas narrativas orais, como discute Peter Burke em seu livro Cultura Popular na Idade Moderna. <br />
<br />
Pesquisando na internet, encontrei o seguinte texto: </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<blockquote class="tr_bq">
<div style="text-align: justify;">
A origem da clássica história da Dona Baratinha é incerta. O registro mais antigo é de 1872, intitulado "Histórias da Carochinha", manuscrito que se encontra na Torre do Tombo, em Lisboa. Era uma crítica às mulheres solteironas que procuravam conquistar seus pretendentes com suas fortunas. Falando principalmente de amor, o conto aborda também outros temas, como a solidão, a partilha, o respeito pela personalidade de cada um, contestando também o verdadeiro valor do dinheiro e do amor. "O Casamento de Dona Baratinha’’ é o primeiro conto infantil traduzido do português de Portugal para o Brasil publicado em “Contos da Carochinha”. </div>
</blockquote>
<div style="text-align: justify;">
De fato, o ano coincide com o momento em que as nações estão se estruturando, em busca de "sua" literatura. O século XIX se caracteriza basicamente, do ponto de vista literário e político, pelo esforço dos intelectuais em definir os pertences do seu país, de inserir com veemência a discussão sobre a identidade nacional, um dos traços ideológicos da emergente burguesia. Com isso, além de uma estrutura macrossocial pautada no conceito de nação, o século burguês também redefiniu a estrutura microssocial, com a família nuclear, estabelecendo funções aos seus membros - pai, mãe, filhos ou, ainda, estabelecendo universos distintos entre adultos e crianças. É a partir deste século que a ideia de criança passa por uma transformação. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Dona Carochinha chega até os letrados brasileiros não diretamente pela voz do povo, mas de sua adaptação literária do século XIX, portanto já transculturada, desembarcada nos portos brasileiros em forma de livro. Carocha é um tipo de besouro, é uma expressão mais usada pelos portugueses do que brasileiros, e refere-se a um escaravelho, que simpaticamente foi aproximado no Brasil contemporâneo e urbano para a nossa conhecida e familiar barata. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O que há nesta história? Antes de encontrar a citação acima, recontextualizei e achei a D. Baratinha uma personagem emancipada. Ela estava varrendo a casa quando achou uma moeda. Arumou-se, perfumou-se e foi para a janela propor casamento aos que se aproximavam, atraídos por seus versos: "Quem quer casar com D. Baratinha que tem fita no cabelo e dinheiro na caixinha?". Se no século XIX, a intencionalidade era criticar as solteironas endinheiradas, desqualificando-as ao chamá-las de interesseiras, até porque a solteirice não era bem vista na época, Ana Maria Machado retira o castigo da moral da história, que pune a mulher que não casa por amor, algo que contraria a ideologia burguesa patriarcal, e opta por uma visão mais positiva para as mulheres.<br />
<br />
A D. Baratinha foi punida séculos antes porque racionaliza a sua situação e, empoderada, propõe casamento, submetendo os pretendentes a sua apreciação e não o inverso. Ela escolhe o seu marido. Eles também a procuram por interesse, mas o conto aburguesado retira o peso dos homens e coloca sobre as mulheres para que sejam subjugadas pelo discurso do amor romântico, desinteressadas pelas coisas materiais pelas quais apenas os homens deveriam se interessar. (Por que será?) Observe que a moral da história não pune o homem interesseiro, mas enfatiza a mulher interesseira. Como se ambos não tivessem seus ineresses. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ana Maria Machado mostra que um sofrimento pode se transformar em uma aprendizagem e que as dificuldades existem para serem superadas. Dona Baratinha, na minha concepção, é uma personagem feminista porque é independente, tem consciência dos acontecimentos e, mais interessante, é uma mulher, ops, barata de personalidade forte que supera a dor da perda e se refaz. Por ser um reconto, apropria-se dos elementos de um primeiro texto, já recontado da tradição popular que, provavelmente já foi modificado, e insere elementos mais próximos do seu leitor atual que já não vê a solteirice como um problema, como no século XIX, mas como uma escolha. Afinal, as crianças de hoje precisam aprender a respeitar as diversas formas de viver em sociedade e com certeza elas devem ter algum parente ou vizinho solteiro. Dona Baratinha de Ana Maria Machado é um texto pedagógico, sem pedagogismos, e de grande riqueza literária, sem ser maçante. Sobre este aspecto, falarei na próxima postagem, pois sei que textos em blogs devem ser curtos, o que é muito difícil para mim. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Vale a pena ler e adotar Dona Baratinha de Ana Maria Machado. </div>
<br />
Fontes:<br />
<a href="http://www.abckids.com.br/verconto.php?codigo=21">http://www.abckids.com.br/verconto.php?codigo=21</a><br />
<a href="http://www.barry4kids.net/LER/PDF/conto_carochinha_pt.pdf">http://www.barry4kids.net/LER/PDF/conto_carochinha_pt.pdf</a><br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiyK-NTIzAN9K0cL1bYTDM0l2oyua4bgao9Sm1GpUWTvgkbj_t7GBxzF7mBth8gADYA3Br-BDbM29Hygo5RXDK3_frsTMOhSP5e74az_SaVDLlEQ8AwS-T4sEnVTalLoKaxI52WeK5s9yY/s1600/ana-maria-machado-87058-1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" sda="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiyK-NTIzAN9K0cL1bYTDM0l2oyua4bgao9Sm1GpUWTvgkbj_t7GBxzF7mBth8gADYA3Br-BDbM29Hygo5RXDK3_frsTMOhSP5e74az_SaVDLlEQ8AwS-T4sEnVTalLoKaxI52WeK5s9yY/s1600/ana-maria-machado-87058-1.jpg" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Ana Maria Machado</td></tr>
</tbody></table>
<br />
<br />
<br />Lúcia Leirohttp://www.blogger.com/profile/16329739907951169909noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5591912658967006376.post-77165529563890526622012-01-01T15:39:00.000-08:002012-01-01T16:46:44.169-08:00Myriam Fraga e a literatura infantil<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;">Myriam Fraga é conhecida na literatura baiana e brasileira como uma escritora que transita entre a prosa e a poesia, muito embora os seus poemas sejam mais conhecidos do que a prosa. No entanto, Myriam Fraga colaborou na coluna Linha D'Água, uma seção do Jornal A Tarde, com textos informativos, reflexivos e artísticos, destaque para o belíssimo texto em prosa poética Fênix, citado e trabalhado em minhas aulas sempre que posso. </span><br />
<blockquote class="tr_bq">
<div style="text-align: center;">
<span style="color: red; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;">Quando a infância corria alegre, à toa... (Myriam Fraga)</span></div>
</blockquote>
<span style="font-size: large;"></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiFZm02UtbAasW5mR_MJSGN36tykeoc8xxsBagSSxA0ANNAwXCT6EihSPvXnQ6UsRcxkaUlVoDch8Z84Nhl2kpxXpG5daLEkd6EZjzA_BBGOGrqZmFTXJQSkt_NDZ1-HRwefTjX5rvrRHI/s1600/MF-jorgeamado.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; cssfloat: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="320" rea="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiFZm02UtbAasW5mR_MJSGN36tykeoc8xxsBagSSxA0ANNAwXCT6EihSPvXnQ6UsRcxkaUlVoDch8Z84Nhl2kpxXpG5daLEkd6EZjzA_BBGOGrqZmFTXJQSkt_NDZ1-HRwefTjX5rvrRHI/s320/MF-jorgeamado.jpg" width="318" /></a></div>
<span style="font-family: Arial; font-size: large;">Hoje quero falar de dois livros publicados pela Calles Editora da coleção Crianças Famosas. Esta coleção teve o propósito de reunir escritores para falar da infância de alguns expoentes da música, pintura e literatura universal. Myriam Fraga ficou encarregada de falar para os pequenos sobre outras crianças que como elas tiveram uma infância, e que antes de serem famosas e se tornarem referências em diferentes campos das artes, foram meninos e meninas.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhGFr_K-_JyTfguaZdhEu0djLP5h21MwjpOkeiHBU9wMs-zMZcNGgVRUnc4uTRLEUKa0cDJBT47l59I_MoWUbdcgchqcMx6RTp7TNeBvoFGZwV4VqljhykCqIZl2Ei50LRKgkWGVfsx5Lg/s1600/MF-castroalves.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; cssfloat: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="314" rea="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhGFr_K-_JyTfguaZdhEu0djLP5h21MwjpOkeiHBU9wMs-zMZcNGgVRUnc4uTRLEUKa0cDJBT47l59I_MoWUbdcgchqcMx6RTp7TNeBvoFGZwV4VqljhykCqIZl2Ei50LRKgkWGVfsx5Lg/s320/MF-castroalves.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial; font-size: large;">A infância de Castro Alves e Jorge Amado foi narrada por Myriam Fraga com poesia, como não poderia deixar de ser, numa linguagem simples e ao mesmo tempo rica, com referências a um passado já bem distante das crianças de hoje, mas Myriam Fraga atualizou e fez isso muito bem, mostrando que as crianças famosas, assim como qualquer criança, tiveram alegrias, mas também passaram por dificuldades. Independente de época ou classe social, cada menino ou menina vive bons e maus momentos. Os dois livros foram ilustrados por Angelo Bonino, dando cor e forma aos cenários e personagens.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
<span style="font-family: Arial; font-size: large;">Depois de ter lido os dois livros, passei a ver a literatura biográfica com outros olhos, e penso que ela deveria ser mais explorada nas escolas, já que a referência no período de formação da criança é muito importante para a sua inserção social. Ela conduz a um conhecimento de si e do outro, possibilitando que os leitores saibam mais sobre as crianças que se tornaram pessoas públicas e que, assim como elas, um dia foram meninos e meninas. </span></div>Lúcia Leirohttp://www.blogger.com/profile/16329739907951169909noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5591912658967006376.post-54635011868793775912011-10-25T14:54:00.000-07:002011-10-25T14:54:34.457-07:0010a Bienal do Livro da Bahia<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Times, "Times New Roman", serif; font-size: large;"><strong>Professores podem trocar vale-livros hoje e amanhã</strong></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br />
<span style="font-family: Times, "Times New Roman", serif;"></span></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Times, "Times New Roman", serif; font-size: large;">Os 1.600 professores da rede estadual de ensino inscritos no Portal da Educação para receber o vale-livro que utilizarão na 10a Bienal do Livro da Bahia (de 28 deste mês a 6 de novembro, no Centro de Convenções da Bahia, em Salvador), devem ir ao posto de troca instalado no Colégio Central, na Avenida Joana Angélica-Centro, hoje e amanhã, das 9 às 17h.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br />
<span style="font-family: Times, "Times New Roman", serif;"></span></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Times, "Times New Roman", serif; font-size: large;">É preciso levar a Declaração de Recebimento Vale-Livros assinada, além do contracheque e um documento de identidade com foto. A lista dos profissionais contemplados e o documento estão disponíveis no Portal da Educação (www.educacao.ba.gov.br).</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br />
<span style="font-family: Times, "Times New Roman", serif;"></span></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Times, "Times New Roman", serif; font-size: large;">Há ainda 1.400 vale-livros para os professores que não se inscreveram pelo portal. Eles também precisam preencher e assinar a Declaração de Recebimento Vale-Livros e entregar num dos três postos de troca disponibilizados pela Secretaria da Educação do Estado, nos mesmos dias e horário.</span></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Times, "Times New Roman", serif; font-size: large;">Número – Os professores devem ficar atentos em relação ao número de vale-livros disponíveis por dia nos postos de trocas localizados no Instituto Anísio Teixeira (IAT), na Paralela (atendimento a 200 profissionais da educação diariamente), Biblioteca Central da Bahia, nos Barris (250/dia), e o Instituto Central de Educação Isaías Alves (Iceia), no Barbalho (250/dia). Os interessados deverão levar também o contracheque e um documento de identidade com foto.</span></div><div style="text-align: justify;"><br />
<span style="font-family: Times, "Times New Roman", serif; font-size: large;">Extraído do DOE 25/10/2011</span></div>Lúcia Leirohttp://www.blogger.com/profile/16329739907951169909noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5591912658967006376.post-28457445938779193142011-08-14T14:20:00.000-07:002011-08-14T14:20:03.795-07:00O que voce entende por leitora gendrada e leitora feminista?<br />
Algumas reflexões:<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">"sendo a leitora gendrada marcada pelos seus pertencimentos de genero, não de sexo, ela vai tirar da cultura,do social, de sua relações de genero, de toda uma expectativa que existe e se forma em torno da representaçao do feminino, seu/s entendimento/s, sua percepção, sua recepção e sua resposta ao texto ficcional. Para ter esse entendimento a leitora gendrada não precisa de nada mais do que estar imersa num determinado contexto politico-social e cultural. Já a leitora feminista se diferencia pela consciencia que tem de si mesma, de suas questões sociais,culturais e politicas. A feminista é um sujeito em processo, é alguém que rompe com uma representação do feminino, porque consegue decodificar seu genero, se diferenciar enquanto agente de sua propria existencia. O genero é um construto cultural, social e político; já o feminismo é uma subversão construtiva de um sujeito emergente dentro de uma dada sociedade. Logo a leitora gendrada leva para o ato interpretativo da leitura seus/suas especificidades de genero, geralmente de forma inconsciente, não reflexiva, com isso ela não rompe com o padrão cultural nas suas possibilidades de construção interpretativa do texto. O que não acontece com a leitora feminista que consciente de seu lugar, de seu papel de sujeito, do seu discurso, rompe com a cultura e subverte o "status quo". Veja as leituras de Viginia Woolf ao escrever sobre profissões para mulheres e/ou a irmã de Shakespeare(Judith), em UM QUARTO TODO SEU." </div><br />
( Nadilza Moreira,UFPb, nadilza@zaz.com.br )<br />
**************<br />
<div align="justify"><br />
"Quanto as suas questões, acho que o primeiro termo deve ser 'genderizada', vem do inglês "gender". No discurso feminista anglo-americano o termo 'gender' vem sendo usado para designar o significado social, cultural e psicológico imposto sobre a identidade sexual biológica da mulher. Já uma leitora feminista implica que tal leitora tem uma postura política, ou seja, exerce sua cidadania como uma verdadeira feminista que significa uma prática de vida, portanto, consciente da discriminação sexual contra a mulher."</div><br />
(Clélia Reis Geha, UNICAP,reisgeha@novaera.com.br )<br />
<br />
**************<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">"Todas nós somos leitoras gendradas. Entre outras categorias que constróem nossa identidade (raça, classe, valores e posições diversas) somos também marcadas por especificidades de gênero que nos delimitam como a mulher que somos com toda a pluralidade de vozes que nos habitam. Um ser gendrado é um ser inserido na dinâmica social e cultural relacionadas à experiência sexuada e aos valores, normas, regras e configurações vinculados a essa experiência. Já uma leitura feminista requer, em primeiro lugar, que nós evidenciemos a estrutura gendrada do ser humano, ou seja, é preciso colocar o foco de análise nos sistemas ideológicos que regem a existência humana sexuada buscando reconhecer os mecanismos de controle dos símbolos culturais por parte da ideologia dominante. A partir daí a leitura feminista questiona os padrões que organizam as experiências de homens e mulheres e que dão legitimidade a determinados tipos de discurso, identidades e relações, ao mesmo tempo que excluem inúmeros 'outros'. A leitura feminista é, então, um modo de desestabilizar a matriz que sustenta discursos universalizantes sobre as identidades do sujeito e que, ainda hoje, funcionam dentro da lógica da opressão e do silenciamento de vozes que ousam escapar de determinados esquemas representacionais que os enquadram e os definem. Uma leitura feminista se estabelece à medida em que busca a desestruturação da lógica patriarcal e heterossexista, apontando para o horizonte de novas possibilidades de leituras dos códigos textuais e para o desafio de estar em um movimento constante de ressignificação e reinterpretação dos textos, dos símbolos, da vida, das relações humanas com seus múltiplos arranjos e suas tênues fronteiras."</div>(Simone Sampaio, Departamento de Teoria Literária, Universidade de Brasília, <a href="mailto:simonesampaio@zaz.com.br">simonesampaio@zaz.com.br</a>))<br />
******************<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">Grosso modo, concordo com a distinção feita pelas outras colegas, mas acho que o fato de não vestir a camisa do feminismo não torna necessariamente uma leitora crítica inconsciente da sua condição de mulher e das determinações dessa condição no seu ofício. Seria bom que encontrássemos um termo menos feio em português para a tal leitora gendrada, que é horrível ou genderizada, que é tão horrível quanto. Afinal, trabalhamos com linguagem e devemos ser sensíveis às palavras. Por que não inventar algo que se desprenda um pouco mais da palavra em inglês?</div><br />
( Ligia Chiappini (<a href="mailto:lchiappi@zedat.fu-berlin.de">lchiappi@zedat.fu-berlin.de</a>)<br />
<br />
**************<br />
<div style="text-align: justify;">Não sei se eu entendo bem o que é uma leitora feminista e uma leitora gendrada, porque penso que não compreendo uma leitora separada de ser também escritora. Penso na interpelação que cada uma admite e percebe com relação aos efeitos de "essência": leitora, e não leitor, feminista, e não masculinista, gendrada e não instituída. Penso que Ligia fala bem de um detalhe gritante: por que emitir a discussão partindo de um termo que já remete a um centro difusor hegemônico, que é a língua inglesa? Talvez a feminista estabeleça um roteiro de prática política, que visivelmente tenta inverter a lógica patriarcal. Não gosto da idéia! Por que a lógica patriarcal se institui também com o apoio que corpos femininos dão aos valores patriarcais. Muitas mulheres gozavam ao ver aquelas que eram consideradas bruxas arderem nas fogueiras. Talvez seja melhor pensar como desmontar a máquina de fabricação de termos e essências; a lógica da trama, para mostrar a trama se fazendo na oficina dos valores, dos discursos, das pequenas armadilhas que o discurso nos prepara e que preparamos nos discursos. Delirei? Talvez sim...</div><br />
(Eliana Mara de Freitas Chiossi, professora e doutoranda da UFBA: achiossi@ufba.br )<br />
***************<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">Enquanto fui lendo esse princípio de discussão aqui esboçado, dois sentimentos e respectivas reflexões foram tomando conta de mim: primeiro, sobre a fecundidade desse debate, pois vocês mulheres conseguiram introduzir novo olhar na medida em que conquistaram uma voz, um discurso com dicção e sensibilidade próprias no horizonte dominado historicamente pelo homens; segundo, visto que nos instituimos pela linguagem, e esta possui uma estética fina e sutil, fui reagindo a esses termos horrorosos (para dizer o mínimo, pois que também trazem a marca de nosso colonialismo espritual) "gendrada", "genderizada"..., quando se poderia dizer algo como «generizada», pelo menos na linha do nosso legado lingüístico. Felizmente, ao chegar ao texto de Ligia Chiappini encontrei uma parceira de sensibilidade. Como quer que seja, felicitações pelo valor da discussão. Mas nem como tal discussão chegou à minha caixa postal, porém fiquei contente.</div><br />
(Eduardo Diatahy B. de Menezes, Professor Titular do Doutorado em Sociologia Universidade Federal do Ceará)<br />
<br />
*********************<br />
<div style="text-align: justify;">Ligia Chiappini tem razao quanto ao feio dos termos gendrada e genderizada, mas o generizada proposto pelo Eduardo também nao vai muito longe. Na verdade, sao problematicos sao quase todos os termos com que trabalha a critica feminista ou mesmo quase tudo que circunscreve o universo feminino [o que vem a ser ? ], a mulher [idem], a sexualidade feminina [ibidem], já apontava Freud em sua pergunta, celebre e inaugural. Quanto aos conceitos em pauta, penso que toda critica "gendrada" eh tambem feminista, se compreendemos a primeira como uma posição de leitura crítica dos objetos da cultura de forma "interessada", no sentido de trabalhar com os valores e com as diferentes ideologias que circunscrevem homens e mulheres em papeis sociais, cada vez mais moveis, mas ainda assim (e nos tempos atuais) hierarquizados. Outro aspecto interessante desse papel de leitora critica eh que ele nao eh intrinseco aa mulher, nao eh da ordem de nenhuma essencia, mas um lugar que se ocupa para ler, interessadamente, tais objetos da cultura, do mesmo modo que se pode, por exemplo, ler um texto a partir de uma perspectiva psicanalitica, ou formalista, ou sociologica, pode-se tambem le-lo sob uma perspectiva feminista. A diferença estaria em que as primeiras disciplinas ja tem um corpus teorico estabilizado, enquanto a critica feminista nao o tem, nem podera te-lo, mas se apropria de todas as outras para atuar, constituindo-se nesse gesto basico transdisciplinar. Alem disso, determinadas mulheres podem ocupar tal lugar com maior eficacia, por obvias razoes.</div><br />
(Vera Queiroz, Profª Adjunta da UFF, vqueiroz@unikey.com.br )<br />
<br />
<div align="justify"></div>Lúcia Leirohttp://www.blogger.com/profile/16329739907951169909noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5591912658967006376.post-31931273931524346032011-08-14T14:15:00.001-07:002011-08-14T14:15:55.540-07:00Cantos e cantares, livro de poemas de Helena Parente Cunha. 2005.<div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">Cores, linhas, formas. Os poemas de Helena Parente Cunha reunidos em Cantos e Cantares, editora Tempo Brasileiro, 2005, reúnem fulgurações em imagens, sejam através das pinturas de Van Gogh, Monet, Da Vinci, seja através do olhar do eu-poético que, pela memória, justapõe passado, presente e o devir. O passado e o presente trafegam livremente em mutações, reinventando-se a cada visão, somando-se e se preenchendo de significações, redescobrindo-se pelos sentidos. </span></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">Entre flores, quintais, ruas e esquinas, o olhar do eu-poético apreende e se lança ao devir em recomeços, assim como a natureza, em ciclo e constantes, doando-se incansavelmente à tranqüilidade e beleza de existir. Mas essa natureza que ao mesmo tempo se lança aos olhos para contemplação, também fere, com suas pontiagudas pedras. Com esta alegoria, a vida humana é captada pela poesia de Helena Parente Cunha, em sua complexidade, de vidas de flores e pedras. </span></div>Lúcia Leirohttp://www.blogger.com/profile/16329739907951169909noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5591912658967006376.post-85665132507059939982011-08-14T14:06:00.000-07:002011-08-14T14:06:44.532-07:00As Filhas do Falecido Coronel, Katherine Mansfield : Uma leitura sob a perspectiva de gênero.<br />
<div style="text-align: right;">"É extremamente mais difícil matar um fantasma do que uma realidade."</div><div style="text-align: justify;"><br />
A epígrafe fez parte de um discurso proferido por Virgínia Woolf para a National Society for Women's Service em 21 de janeiro de 1931 e publicado post mortem em 1942. A reflexão da autora inglesa discute a questão da mulher no campo profissional, demonstrando que os conflitos experimentados pelo feminino acontecem através do tensionamento entre a sua vontade de exercer uma atividade profissional e o modelo que lhe é imposto pela sociedade que a exclui desse espaço. Segundo Virgínia Woolf, a mulher que tenta sair do circuito privado (espaço da casa), esbarra em um espectro que a faz recuar. A autora, que experimentou esses embates, argumenta que se deve matar o fantasma ou Anjo da Casa, como ela mesma chama, aquela voz feminina que tenta fazer a mulher vacilar, fazendo-a lembrar de que não deve desviar-se do "seu" comportamento e missão. É umaa voz que parte de dentro, que atravessou séculos e que vigia a mulher, inibindo-a quando esta intenciona ocupar um outro espaço pré-determinado como não-feminino.</div><div style="text-align: justify;"></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">O conto de Katherine Mansfield traz a trajetória de duas mulheres Josephine e Constantia filhas de um coronel viúvo e doente que vem a falecer. Com a morte do pai, as filhas experimentam o conflito da ausência de um "referencial protetor". Mais ainda, experimentam a presença do fantasma do pai, ou seja, do que esse lugar representa no inconsciente dessas mulheres agindo como elemento cerceador. Lembremos de que as mulheres de classe média do século XIX só saíam da casa dos pais para formar uma outra família, portanto, a idéia era de que sempre haveria uma figura masculina que as guiassem: "- não consigo imaginar como eles conseguem sobreviver." (Constantia falando sobre os camundongos).</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">A falta de uma figura masculina desestabiliza e provoca na personagem uma inquietação, uma preocupação que a faz refletir sobre a sua vida. O trecho não mostra explicitamente a articulação que Constantia faz entre os camundongos e a sua existência, mas o fato de exteriorizar a sua incompreensão diante da sobrevivência dos camundongos que vivem livres, independentes de um provedor, acaba deixando uma lacuna a ser preenchida por ela mesma visto que o discurso deixa transparecer um questionamento e, portanto, uma instabilidade na condição em que sempre esteve envolvida.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">As Filhas do Falecido Coronel é um texto predominantemente dialogal e preocupa-se em apresentar os embates e sensações experimentados pelas duas personagens femininas: os medos, as angústias, os mecanismos de evasão, a frustração, a insegurança, enfim reações que se exteriorizam através de situações que, por sua vez, refletem os impasses internos de cada uma. O primeiro deles se dá no início do conto quando Constantia e Josephine discutem o uso do luto dentro de casa. Acontece a primeira dúvida e a primeira resolução a tomar. Um problema do cotidiano se apresenta como um árduo obstáculo para duas mulheres tão acostumadas a não tomar resoluções. No entanto, o que parece relevante apontar é o caminho que a autora vai traçando para as duas mulheres que partem de uma situação/problema e o esforço de superá-lo. Através dessa operação se dá o amadurecimento das personagens, a tentativa de construir uma consciência de identidade feminina. Através da morte do pai essas mulheres vão se firmando e re-construindo as suas vidas . As dúvidas podem partir de situações do dia-a-dia como a escolha do cardápio para almoço até as mais complexas como a demissão ou não da empregada (Kate). Mas até chegar a esse ponto, as personagens insistem, resistem, desistem, retomam posições; esse processo que a autora procura enfocar traduz a experiência do feminino em apre(e)nder o mundo através dos próprios olhos, das suas próprias ações, partindo das suas próprias reflexões dando certo ou não.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">As superações e enfretamento de Josephine e Constantia acontecem paulatinamente durante a narrativa. Em uma das partes do texto, elas resolvem entrar no quarto do pai que sempre as proibiu de estar lá pela manhã porque não gostava de ser incomodado. A cena é descrita por Katherine Mansfield com habilidade ao apresentar a força de atração e repulsa que se instaura nas mulheres ao entrar em um espaço "proibido":</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><em>Josephine só conseguia olhar fixamente. Ela tinha o sentimento mais extraordinário de que acabara de escapar a algo simplesmente terrível. Mas como conseguira explicar a Constantia que papai estava dentro da cômoda? Ele estava na gaveta superior, com os lenços e as gravatas, ou na seguinte, com as camisas e pijamas, ou na inferior, como todos os seus ternos. Estava observando dali, escondido - logo atrás da maçaneta - pronto para saltar. </em></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">O espaço estranho causa medo; os objetos naquele quarto remetem ao pai, presentificando-o. Contudo, o contato com os pertences do pai enfocada como uma transgressão a "lei paterna" as fortalece. Não seria essa mesma sensação de sentir-se "fora", de não pertencimento que nós experimentamos já que as coisas que estão a nossa volta nomeadas não representam a nossa experiência mas sim a do Outro? Não seria a ousadia em conhecer/ler/transgredir esse universo que nos torna mais conscientes de nós mesmas, do nosso lugar e assim poder desenvolver/resolve nossas estratégias/angústias? "Fez então uma daquelas coisas surpreendentemente ousadas que fizera apenas umas duas vezes na vida antes... "</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Os mecanismos de evasão que as personagens vivenciam, revelam a tensão desencadeada por situações de impasse, mesmo as mais corriqueiras. Há trechos no conto que mostram como Josephine e Constantia utilizam artifícios em momentos de embates. A evasão ou os desvios parecem ser recorrentes quando as duas têm algum obstáculo, algum problema que não conseguem resolver, pelo menos a curto prazo. Um deles era a presença incômoda da enfermeira que cuidara do pai até a sua morte. Livrar-se da hóspede "de hábito enlouquecedor" parecia tarefa muito difícil, levando as filhas do coronel a, esporadicamente, evadir-se: </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><em>Josephine ficava muito vermelha quando isso acontecia, e pregava seus pequenos olhos em feitio de contas na toalha, como se visse um minúsculo inseto estranho se arrastando por sua trama. Mas o rosto comprido e pálido de Constantia se alongava e ficava carrancudo, e ela desviava os olhos para longe - longe - para o deserto, onde aquela fila de camelos se desenrolava como um novelo de lã...</em></div><div style="text-align: justify;"><em>(...)</em></div><div style="text-align: justify;"><em>A enfermeira Andrews esperava, sorrindo para ambas. Seus olhos vagavam espiando tudo por trás dos óculos. Constantia, em desespero, retornou a seus camelos. </em></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">O camelo é comumente considerado símbolo de sobriedade (...). É o atributo da temperança. O camelo significa também o veículo que conduz o homem de um oásis a outro, atravessando o deserto. Este, por sua vez, representa o lugar afastado de Deus, portanto, afastado do Pai. Um lugar de solidão, de dificuldades, mas de perseverança e de fortalecimento. A experiência de Constantia é de solidão, mas também, ao mesmo tempo, de busca de sentido em um outro lugar imaginado. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">As filhas do coronel tomam consciência de suas atitudes quando aparece a figura do realejo, tão desprezada pelo pai. A primeira reação que elas têm é de encontrar uma moeda para livrar-se do realejo, o que acontecia sempre quando o pai estava presente. Nesse momento, elas param e lembram-se de que não é preciso, não há nada que as impeça de escutar o realejo. Dá-se nesse momento a morte do pai: </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><em>(...)E também Josephine esqueceu-se de ser prática e sensata; ela sorriu leve, estranhamente. Sobre o tapete indiano incidiu um retângulo de luz solar vermelho-pálida; vinha e sumia e vinha...e ficava, escurecia - até brilhar quase dourado.</em></div><div style="text-align: justify;"><em>(...)</em></div><div style="text-align: justify;"><em>Uma fonte perfeita de notas borbulhantes vibrou do realejo, notas redondas, brilhantes, dispersando-se despreocupadamente.</em></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Constantia ergueu as grandes mãos frias como que para segurar aquelas notas, mas depois as deixou cair. Dirigiu-se a cornija da lareira, até o seu Buda favorito. E a imagem de pedra dourada, cujo sorriso sempre lhe transmitia um sentimento tão estranho, quase uma dor, mas contudo uma dor agradável, parecia hoje mas do que sorrir.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Escutar o realejo significa transgredir a Lei. As filhas começam a se dar conta da alegria de estar livre do domínio paterno, alegria de poder decidir. Simbolicamente, as sensações experimentadas encontram-se no trecho representadas pelo tapete e pelo Buda. O tapete embora, para o ocidente, seja meramente um objeto de decoração, para o oriente há todo um valor "mágico". Cada desenho, formas e cores têm um sentido. O tapete representa a morada, a casa e as cores que incidem sobre ele - o vermelho e o amarelo ("dourado") - significam, respectivamente, alegria e poder. Posso relacionar o tapete como sendo a própria vida, o corpo dessas mulheres que experimentam plenamente, pela primeira vez, a alegria e o poder de reger as suas vidas. A oscilação da luz em ir e vir, traduz o processo íntimo que se opera na personagem até experimentar plenamente, naquele momento, a alegria em sentir-se livre. O Buda também representa poder e sabedoria. "(...) o que significava isso? O que era isso que ela estava sempre querendo? A que levava tudo isso? E agora? E agora?"</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Ela se afastou do Buda com um dos seus gestos vagos. Dirigiu-se para onde Josephine estava parada de pé. Queria dizer uma coisa para Josephine, uma coisa terrivelmente importante, sobre...sobre o futuro e o que...</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">-<em> Você não acha que talvez... - começou.</em></div><div style="text-align: justify;"><em>Mas Josephine interrompeu.</em></div><div style="text-align: justify;"><em>- Eu estava me perguntando se agora... - ela murmurou. Detiveram-se; esperaram uma pela outra.</em></div><div style="text-align: justify;"><em>- Prossiga, Con - disse Josephine.</em></div><div style="text-align: justify;"><em>- Não, não Jug; falo depois - disse Constantia.</em></div><div style="text-align: justify;"><em>- Não, diga o que você ia dizer. Comece você - disse Josephine.</em></div><div style="text-align: justify;"><em>- Eu...eu preferiria ouvir o que você tinha a dizer primeiro - disse Constantia.</em></div><div style="text-align: justify;"><em>- Não seja absurda, Con.</em></div><div style="text-align: justify;"><em>- Realmente, Jug.</em></div><div style="text-align: justify;"><em>- Connie!</em></div><div style="text-align: justify;"><em>- Oh, Jug!</em></div><div style="text-align: justify;"><em>Uma pausa. Então Constantia disse debilmente:</em></div><div style="text-align: justify;"><em>- Não posso dizer o que ia dizer. Jug, porque esqueci o que era...que eu ia dizer.</em></div><div style="text-align: justify;"><em>Josephine ficou em silêncio por um momento. Fixou uma grande nuvem onde antes estivera o sol. Depois respondeu brevemente:</em></div><div style="text-align: justify;"><em>- Eu também esqueci. </em></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Foi necessário transcrever o final do conto inteiramente porque mostra claramente o itinerário dessa auto-descoberta da condição/situação em que as personagens se encontram. Os questionamentos, os recuos revelam que o caminho está por fazer-se. Interessante mostrar as experiências contraditórias dessas mulheres que diante da possibilidade de se sentirem felizes com a ausência do pai sentem-se também culpadas por essa sensação. Essa culpa se apresenta através da voz do Anjo da Casa que no texto aparece como a grande nuvem que tenta esconder o sol, o prazer da descoberta de exercer autonomia. Esses avanços e recuos, a ousadia e o medo são alternadamente vivenciados por essas mulheres, sem predomínio de um sobre o outro. O momento da oscilação evidencia uma rachadura no modelo androcêntrico, uma abertura para que esse modelo seja questionado.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Katherine Mansfield utiliza-se da rememoração para enfocar a busca de identidade das personagens femininas. A autora lança mão desse mecanismo porque entende que é o caminho que devemos percorrer para re-vermos as nossas relações, as sensações experimentadas, os discursos que foram internalizados para que, a partir dessas experiências, nós possamos nos entender e aprender a administrar os nossos medos, angústias e por fim, tentar destruir "o fantasma". </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Contudo, é durante a projeção do pensamento para o futuro que as personagens encontram dúvidas, hesitam. É o momento em que o Anjo da Casa aparece para fazê-las recuar; o momento de inseguranças e de incertezas. Essas mulheres nunca precisaram pensar no futuro porque era assegurado pelo homem: a princípio pelo pai e em seguida pelo marido (que elas não tiveram). Agora elas se encontravam sem esses referenciais. Tal situação era ao mesmo tempo assustadora e excitante. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">A pausa das duas personagens no final do conto, após diversas suspensões intermitentes do pensamento, remete a uma cumplicidade. "Esquecer", no contexto, não significa não lembrar-se, mas não ser necessário dizer talvez porque a linguagem não dê conta de traduzir as experiências da mulher. As hesitações e o silêncio aparecem como o lugar da não-palavra:</div><div style="text-align: justify;"><em>Josephine ficou em silêncio por um momento. Fixou uma grande nuvem onde antes estivera o sol. Depois respondeu brevemente:</em></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><em>- Eu também esqueci.</em> </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">O conto de Katherine Mansfield, ao discutir a construção do feminino na sociedade patriarcal inglesa, nos oferece pistas que nos permitem ler o texto em uma perspectiva de gênero, isto é, evidenciando e refletindo sobre uma das relações de poder e de dominação: os lugares feminino e masculino. A autora mostra, pelo final do conto, que a experiência/consciência feminina de sua identidade é um processo que se constrói paulatinamente não com um ritmo freqüente e progressivo, pelo contrário, a autora nos mostra que essa experiência oscila em idas e vindas, isto é, com avanços e recuos, com um olhar no passado e outro no presente.</div>Lúcia Leirohttp://www.blogger.com/profile/16329739907951169909noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5591912658967006376.post-59504966127277301722011-08-10T03:47:00.000-07:002011-08-10T03:52:26.256-07:00A Menina que Tinha Medo do Vento, Nadja Nunes, 2010<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjxOrwbDb6rIeEq4zFmBwm4rpo3ED93NF380U6syfCqrVrlwORje9K9svHEDx99MumTKVyeRKCyr8DZlOuaMqmm1QlYW8YQmD08zIhApvYbjkwkbtjQM4LnpiIjrDNJmeLONm1vnanzuiA/s1600/capa_reduzida_amenina1.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; cssfloat: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="184" naa="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjxOrwbDb6rIeEq4zFmBwm4rpo3ED93NF380U6syfCqrVrlwORje9K9svHEDx99MumTKVyeRKCyr8DZlOuaMqmm1QlYW8YQmD08zIhApvYbjkwkbtjQM4LnpiIjrDNJmeLONm1vnanzuiA/s200/capa_reduzida_amenina1.jpg" width="200" /></a></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;">O livro de literatura infantil da “debutante” Nadja Nunes traz conteúdo, linguagem e criatividade de quem já é veterana. De forma atraente, a autora cria a história de uma menina chamada Júlia que convive com a sua avó Maria a quem diz ter medo do vento. Em diferentes momentos, a avó tenta afastar o medo da menina, mostrando as diversas contribuições do vento para a vida, mas, relutante, a experiência da menina sobrepõe-se ao discurso convincente da avó, até que esta descobre a razão. </span></div><span style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;"></span><br />
<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;">A narrativa nos possibilita diferentes leituras, seja de viés pedagógico seja literário. Do primeiro ponto de vista, a trama mostra as idas e vindas daqueles que tentam compreender os comportamentos das crianças no intuito de alterá-los, no caso da narrativa, o medo que a menina tinha do vento. Já da perspectiva literária, a referência a passagem do sentido conotativo para o denotativo na criança nem sempre é uma tradução simples como é para o adulto. A revelação da menina mostra que a experiência negativa, de isolamento, da solidão, foi devido a uma ação do vento. Quando o menino, Gil, abriu a porta disse: “Foi o vento que fechou a porta”. Neste momento, a personificação através da ação do vento, o sujeito da oração, fez com que a menina o investisse de autonomia e intencionalidade, levando-a a ter medo, já que não se importou com o fato de ela estar do lado de fora, impedindo-a que entrasse em casa. </span></div><span style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;"></span><br />
<div style="text-align: justify;"><table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgsRMNpChgsSyTYd5y1mjXONFKUj1RwWGdtZyCtrbBmm50ZJ9Yzy0ZABtM0B9zg7A2Mb5bVFuwjTKM-sD40yrKndTlTzcYu-T1CuP5-bPAH3AOQ2n4bJQ8uvMCZTg2Ql1EdCFgnMO7X7q4/s1600/nadja.png" imageanchor="1" style="clear: right; cssfloat: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" naa="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgsRMNpChgsSyTYd5y1mjXONFKUj1RwWGdtZyCtrbBmm50ZJ9Yzy0ZABtM0B9zg7A2Mb5bVFuwjTKM-sD40yrKndTlTzcYu-T1CuP5-bPAH3AOQ2n4bJQ8uvMCZTg2Ql1EdCFgnMO7X7q4/s1600/nadja.png" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Nadja Nunes</td></tr>
</tbody></table><span style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;">A autora trouxe o que há de mais particular na experiência linguística da criança que consiste na tradução das camadas de significação que dependem do grau de abstração e da transferência na correspondência dos componentes entre significante e significado alado ao contexto. No caso acima, o vento ganha autoridade de ser vivo, humano, porque ele realiza uma ação própria das pessoas, o que facilita a transferência de sentido por parte da criança, com base em seu acervo. </span></div><span style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;"></span><br />
<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;">Outro aspecto importante no livro é em relação às práticas sociais da personagem Júlia, muito comum às crianças urbanas de hoje, que é a ida ao shopping e ao cinema. Raramente vemos essa experiência sendo representada nos livros de literatura infantil, o que aproxima o(a) leitor(a) da narrativa e facilita a sua identificação. Geralmente, o espaço de ação das crianças nas narrativas literárias se passa em casa, no quintal, na rua, na escola ou em uma fazenda, o que limita muito o ambiente de ação e não representa a realidade de muitas crianças. </span></div><span style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;"></span><br />
<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;">Por fim, outro elemento importante da narrativa é o traço autobiográfico, aspecto que marca a escrita de muitos escritores, principalmente as mulheres. A autora se chama MARIA Nadja (assim como a avó da narrativa) e a neta se chama JÚLIA (assim como a personagem). A avó também é escritora e ao ouvir a história da menina, resolve escrevê-la. </span></div><span style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;"></span><br />
<div style="text-align: justify;"><br />
<span style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;">Se menina deixou de sentir medo? Eu não sei, vale a pena ler para conferir. </span></div>Lúcia Leirohttp://www.blogger.com/profile/16329739907951169909noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5591912658967006376.post-29896904973965299222011-08-09T16:28:00.000-07:002011-08-09T16:33:50.221-07:00Sua Mãe Sabe Mais <table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh0-YD6Vh6Q1ehE2vHfs-gmiem0CwLhTxX_W0E1jx-13wDgsZ8oYnvcIQz1bY23sQCyUoeGmjkdnuvq3fLekdC4D8Gyp7LSRmGMqGGI4oYiTsv2d9vMFzE7dIG_dhJfZYI7wbByFBHI6dQ/s1600/gothel-rapunzel.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="232" naa="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh0-YD6Vh6Q1ehE2vHfs-gmiem0CwLhTxX_W0E1jx-13wDgsZ8oYnvcIQz1bY23sQCyUoeGmjkdnuvq3fLekdC4D8Gyp7LSRmGMqGGI4oYiTsv2d9vMFzE7dIG_dhJfZYI7wbByFBHI6dQ/s320/gothel-rapunzel.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"></td></tr>
</tbody></table> Você é tão frágil como as flores,<br />
Ainda é uma mudinha e muito nova,<br />
Sabe porque estamos nesta torre?<br />
Isso aí, para manter você sã e salva,<br />
<br />
Este dia chegaria eu já sabia<br />
Ver que o ninho já não satisfaz,<br />
Mais ainda não, confia coração<br />
Sua mãe sabe mais!<br />
<br />
Sua mãe sabe mais<br />
Ouça o que eu digo<br />
É um mundo assustador,<br />
Sua mãe sabe mais<br />
Cheio de perigos, acredite por favor<br />
Homens do mal, galhos envenenados, canibais e cobras,<br />
A praga sim, insetos enormes, dentes afiados<br />
Pare eu imploro já estou assustada,<br />
<br />
Mamãe está aqui, vem que eu te protejo<br />
Deixe de sonhar demais,<br />
Colha o trama vem com a mama<br />
Sua mãe sabe mais!<br />
<br />
Vá seja pisada por um rinoceronte<br />
Seja assaltada e largada para morrer,<br />
Só sou sua mãe não sei de nada<br />
Eu só te dei banho, troquei, dei carinho<br />
<br />
Vamos me abandone eu mereço,<br />
Deixe que eu morra aqui em paz<br />
Antes do fim você vai ver, vai sim!<br />
Sua mãe sabe mais!<br />
<br />
Sua mãe sabe mais<br />
Você por sua conta, não vai saber se virar<br />
Toda desleixada, imatura tonta, eles vão te devorar<br />
Crédula, ingênua, levemente suja, boba e um tanto honrada<br />
<br />
E ainda por cima olha que gorducha<br />
Eu só digo por que te amo,<br />
Sua mãe entende, quer te dá ajuda<br />
E só um pedido faz!<br />
<br />
Não se esqueça, e obedeça<br />
Sua mãe sabe mais.<br />
<br />
<br />
<br />
Fonte: <a href="http://letras.terra.com.br/disney/1844932/">http://letras.terra.com.br/disney/1844932/</a><br />
<br />
<div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">A letra acima faz parte de uma das músicas da trilha sonora do filme de animação "Enrolados", adaptação do conto de fada Rapunzel, produzido pela Disney em 2011. Se não atentássemos para o contexto, para o lugar de fala, poderíamos arriscar em dizer que a letra desconstruiria uma das representações mais históricas e difíceis de fissurar: a da mãe. A letra mostra as manipulações feitas pela mãe a fim de manter a filha sob a sua dependência e para isso lança mão de subterfúgios como a chantagem emocional, a humilhação, o medo, mas que não podem ser percebidos pelo fato de serem pronunciados pela mãe, atrelado ao discurso afetuoso, criando uma situação paradoxal. </span><br />
<br />
<span style="font-size: large;">No entanto, o sistema não deixaria passar tamanha irreverência, tamanho desmonte, e logo nos faz lembrar que essa mãe na verdade é uma "falsa mãe", a madrasta que sequestrou Rapunzel quando ainda era bebê. Sendo assim, a música parece caber direitinho na figura da vilã, já que dificilmente ela poderia ser aceita como enunciado da mãe, embora todas elas lancem mão desses argumentos persuasivos...eventualmente. O filme traz, mais uma vez, uma visão maniqueísta da heroína e vilã separando as ações nobres das mesquinhas em duas pessoas distintas, como se fosse possível que uma pessoa fosse totalmente nobre ou totalmente avarenta. Reforça-se deste modo estereótipos seculares.</span></div>Lúcia Leirohttp://www.blogger.com/profile/16329739907951169909noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5591912658967006376.post-85722868189417367882011-08-09T09:58:00.000-07:002011-08-09T09:58:01.401-07:00SIMPÓSIO INTERNACIONAL LITERATURA, CULTURA E SOCIEDADE da UFVPeríodo: 08, 09 e 10 de novembro de 2011<br />
Local: Viçosa, MG.<br />
Informações e inscrições: <a href="http://www.literaturaufv.com.br/">http://www.literaturaufv.com.br/</a><br />
Temas para apresentação de trabalhos:<br />
<br />
- Literatura e outros campos de conhecimento;<br />
- Estudos de Literatura Comparada e de Crítica da Cultura;<br />
- Literatura e Estudos de Gênero;<br />
- Leitura e ensino de literatura;<br />
- Literatura, Memória e História;<br />
- O imaginário mítico;<br />
- O Pós-colonialismo na Literatura;<br />
- Margens e fronteiras do literário.<br />
<br />
Conferencistas:<br />
<br />
Prof. Dr. Carlos Reis (Universidade de Coimbra)<br />
Profa. Dra. Orna Messer Levin (UNICAMP)<br />
Profa. Dra. Ângela Beatriz Carvalho de Faria (UFRJ)<br />
Profa. Dra. Ivete Walty – (PUC Minas)<br />
Profa. Dra. Márcia Marques Morais (PUC Minas)<br />
Profa. Dra. Lyslei Nascimento (UFMG)<br />
Prof. Dr. Leonardo Mendes (UERJ)<br />
Profa. Dra. Solange Yokozawa (UFG)<br />
Prof. Dr. José Luiz Foureaux (UFOP)<br />
Prof. Dr. Luis Maffei (UFF)<br />
<br />
Promoção:<br />
Universidade Federal de Viçosa<br />
Departamento de Letras<br />
Programa de Pós-Graduação em Letras – Área de Estudos Literários<br />
Telefone: 031 3899-1583 <br />
Apoio:<br />
<br />
FUNARBE – FUNDAÇÃO ARTUR BERNARDES DA UFV<br />
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES<br />
DEPARTAMENTO DE LETRAS - UFV<br />
CAPES<br />
FAPEMIG<br />
Coordenação:<br />
<br />
Prof. Gerson Roani – UFV<br />
Prof. Felipe dos Santos Matias – UFV<br />
Prof. Rodrigo Machado – PPGLETRAS-UFV<br />
Prof. Renato Dering – PPGLETRAS-UFVLúcia Leirohttp://www.blogger.com/profile/16329739907951169909noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5591912658967006376.post-15698199859565659952011-08-09T04:41:00.000-07:002011-08-09T04:41:31.422-07:00AGRADECIMENTOS<div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj4BOGs6LxnCR0-rpONFWz3QESS42uFSRJPQrKVuzps_6iKwd-m74vt497e280ds0xapfUFfc3IvRELuvxjDcIzXnw7inIAZri-f_1UeDXsj6NRqQz9B0Gi7MjszjOJywtPb769COFVhJs/s1600/rosto-perfil2.png" imageanchor="1" style="clear: right; cssfloat: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" naa="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj4BOGs6LxnCR0-rpONFWz3QESS42uFSRJPQrKVuzps_6iKwd-m74vt497e280ds0xapfUFfc3IvRELuvxjDcIzXnw7inIAZri-f_1UeDXsj6NRqQz9B0Gi7MjszjOJywtPb769COFVhJs/s1600/rosto-perfil2.png" /></a><span style="color: #741b47; font-size: large;">Agradeço a todas(os) que têm postado no comentário sobre as minhas contribuições à nossa literatura brasileira, seja para adultos ou para crianças e adolescentes.</span></div><div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none; text-align: center;"><span style="color: #741b47; font-size: large;">Este <em>feedback </em>é importante, pois serve de bússula às blogueiras com pouco traquejo neste caminho, como eu. </span></div><div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none; text-align: center;"><span style="color: #741b47; font-size: large;">Estou sempre aprendendo.</span></div><div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none; text-align: center;"><span style="color: #741b47; font-size: large;">Obrigada!</span></div>Lúcia Leirohttp://www.blogger.com/profile/16329739907951169909noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5591912658967006376.post-88679760894391091912011-08-09T04:27:00.000-07:002011-08-09T04:34:05.006-07:00E-mail: pequenas feministas<div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">Pequena feminista,</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhwrceVVobarmbjVfkqeuVWVWlpb8n2rHK1rs357ERsMUAn5Vqsb_seXdXnHAeisw3tGK0NcorZCLKR_3Xc4vOTdYSY9HIl3gWzkCCTgKpiBR_AVAgLA0yKDRN2EQbwIc3qp8EcCn-jXHo/s1600/mensageira1.png" imageanchor="1" style="clear: right; cssfloat: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><span style="font-size: large;"><img border="0" naa="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhwrceVVobarmbjVfkqeuVWVWlpb8n2rHK1rs357ERsMUAn5Vqsb_seXdXnHAeisw3tGK0NcorZCLKR_3Xc4vOTdYSY9HIl3gWzkCCTgKpiBR_AVAgLA0yKDRN2EQbwIc3qp8EcCn-jXHo/s1600/mensageira1.png" /></span></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: large;">respondendo ao e-mail</span></td></tr>
</tbody></table><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">Sei que na sua idade é difícil entender algumas práticas sociais enraizadas na nossa cultura, principalmente porque, apesar de todo acesso informativo promovido pela internet, os textos são fragmentados e muitas vezes não trazem uma relação entre o presente e o passado. Você me disse que não gosta da disciplina História em seu Colégio, mas procure enxergar os efeitos de hoje como decorrentes de causas provocadas pelas pessoas em épocas e lugares anteriores. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">Quando você me pergunta sobre as razões de algumas mulheres ficarem sempre com as tarefas domésticas, mesmo trabalhando fora, isso me conduz à história. Veja como ela é importante. Quando a indústria começou a se desenvolver e precisava de pessoas para executar as atividades salariadas, houve então a divisão sexual do trabalho. A revolução que aconteceu no século XIX, quer dizer aquela ocorrida entre os anos de 1801 e 1900 (sua professora deve ter falado disso), na Europa, mudou muita coisa na vida das pessoas e a mudança mais radical foi a divisão sexual do trabalho: as mulheres foram incentivadas para o trabalho da casa, não-remunerado, e o homem para o trabalho na rua, este remunerado. Esta configuração já coloca uma ideologia de arranjo conjugal baseada na reprodução (casal de sexos diferentes unidos pela lei humana e divina) que teria o nome de família nucelar ou burguesa. Não precisa dizer que o conhecimento, as leis sempre foram dominadas pelos homens, então eles as escreveram com base nos interesses deles. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">Na verdade, a mulher, na condição de esposa, não era uma inativa, ela era uma peça na engrenagem da indústria, porém não recebia salário, mas, sim, o marido. A indústria pagava ao marido pela atividade laboral e o marido “pagava” à mulher com o provimento domiciliar (nunca com dinheiro),. Desta forma incluía a esposa como trabalhadora indireta da indústria – porque ela tinha que dar condições para o marido voltar ao trabalho no dia seguinte, alimentado e fortalecido para que a sua energia fosse transformada em lucro para a indústria. Desta forma, a esposa participa da lógica do sistema de exploração capitalista e é duplamente ludibriada: pelo empresário e pelo marido (este de forma inconsciente, às vezes). Logicamente que algumas tentaram tirar proveito da situação, desenvolvendo estratégias de risco que poderiam lhe causar a execração pública. A grande maioria se resignava e posavam de rainhas em um reino que nunca foi seu, mesmo o da casa (a sua autoridade vai até um limite permitido, depois disso ela é lembrada que é mantida, sustentada pelo marido).</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">Apesar da distância no tempo e no espaço, esse modelo cruzou mares e foi bastante difundido pelos romances, revistas, discursos pedagógicos (escola e religião) tornando essa realidade natural, inquestionável, sendo exposta definitivamente por mulheres que percebiam a manobra, como: Virginia Woolf, Jane Austen, Simone de Beauvoir, Betty Friedan, Margareth Mead, Kate Millet, entre outras, todas do século XX. Há também as excelentes discussões de Olympe de Gouges que no século XVIII questionou a política androcêntrica da revolução francesa e, por isso, foi guilhotinada. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">Assim, as mulheres de hoje, mesmo com todas as mudanças sociais, repetem modelos seculares, com poucas variações. A diferença é que hoje ela tem o teto e o dinheiro (Woolf dizia que uma mulher para se emancipar deveria ter um teto e 500 libras, ou seja, propriedade e uma profissão), mas porque então elas se colocam em posição tão humilhante diante do homem? Por que aceitam que gritem com elas? Que lhes imponham as suas vontades mesmo que estas as violentem? Por que elas confundem valorização com desvalorização? </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">Como vê, a sua pergunta é a pergunta que muitas mulheres adultas que estudam a vida das mulheres se fazem. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">Na sua opinião, o que faz a mulher agir desse jeito?</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">Ah, mudei de e-mail. Escreva para: ltleiro@gmail.com ou, se quiser, pode postar no comentário a sua resposta, aqui mesmo no blog. </span></div>Lúcia Leirohttp://www.blogger.com/profile/16329739907951169909noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5591912658967006376.post-80541365253275406702011-07-25T06:19:00.000-07:002011-07-25T06:20:46.255-07:00NUNCA DESCUIDANDO DO DEVER, Marina Colasanti<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj9pawuoDYL_Bth0U9BqJehMP769NLb765y69_ZVaWR3Tac8k57qTRmXDG2n4HEgqjO2ahBBtBMzmyEr0d2EdcvxUeD8YtiRWHwZuu0MGA2iMb0H8FWSBMnIHyJ2R52vo9dA7NX7GQMMzU/s1600/comprar-ferro-passar-roupa.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; cssfloat: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj9pawuoDYL_Bth0U9BqJehMP769NLb765y69_ZVaWR3Tac8k57qTRmXDG2n4HEgqjO2ahBBtBMzmyEr0d2EdcvxUeD8YtiRWHwZuu0MGA2iMb0H8FWSBMnIHyJ2R52vo9dA7NX7GQMMzU/s1600/comprar-ferro-passar-roupa.jpg" t$="true" /></a></div><div style="text-align: justify;"><span style="color: #274e13; font-size: large;">Jamais permitiria que seu marido fosse para o trabalho com a roupa mal passada, não dissessem os colegas que era esposa descuidada. Debruçada sobre a tábua com olho vigilante, dava caça às dobras, desfazia pregas, aplainando punhos e peitos, afiando o vinco das calças. E a poder de ferro e goma, envolta em vapores, alcançava o ponto máximo da sua arte ao arrancar dos colarinhos liso brilho de celulóide. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br />
<span style="color: #274e13;"></span></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="color: #274e13; font-size: large;">Impecável, transitava o marido pelo tempo. Que, embora respeitando ternos e camisa, começou sub-repticiamente a marcar seu avanço na pele do rosto. Um dia notou a mulher um leve afrouxar-se das pálpebras. Semanas depois percebeu que, no sorriso, franziam-se fundos os cantos dos olhos.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br />
<span style="color: #274e13;"></span></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="color: #274e13; font-size: large;">Mas foi só muitos meses mais tarde que a presença de duas fortes pregas descendo dos lados do nariz até a boca tornou-se inegável. Sem nada a dizer, ela esperou a noite. Tendo finalmente certeza de que o homem dormia o mais peado dos sonos., pegou um paninho úmido e, silenciosa, ligou o ferro. </span></div><div style="text-align: right;"><span style="color: #274e13; font-size: large;">Marina Colasanti, In.; Contos de Amor Rasgados, 1986)</span></div>Lúcia Leirohttp://www.blogger.com/profile/16329739907951169909noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5591912658967006376.post-52892806204391779732011-07-25T06:13:00.000-07:002011-07-25T06:17:12.014-07:00CASO ANTIGO , Helena Parente Cunha<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgwI0GWptiNNv1oYL0l0NHxqZDkNNFP9lsjQM8amgJtu-9joSEknpJabIz_yQDJ83drvRS3Ire8dW8rPKZAJcHsTwp1yGdSoTXar_GTWlmWMtPC_9YzNjfgl7O7hRQJ65ppCf-B5LswtIw/s1600/Espera%255B1%255D22.JPG" imageanchor="1" style="clear: right; cssfloat: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="150" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgwI0GWptiNNv1oYL0l0NHxqZDkNNFP9lsjQM8amgJtu-9joSEknpJabIz_yQDJ83drvRS3Ire8dW8rPKZAJcHsTwp1yGdSoTXar_GTWlmWMtPC_9YzNjfgl7O7hRQJ65ppCf-B5LswtIw/s200/Espera%255B1%255D22.JPG" t$="true" width="200" /></a></div><div style="text-align: justify;"><span style="color: #990000; font-size: large;"><em>Quando o conheceu, ela tinha vinte anos. Romancista, de renome se fazendo, ele se tornou para ela o sonho realizado em se realizará. Eles se encontravam uma a duas vezes por semana. Paixão, ela reverberava. Fosforescências. Ele dizia claramente, não queria se casar, não queria se juntar. Não gostava de iludir. Cada qual em dividido para se somarem no mais e no tudo. Assim ele dizia. Assim ele queria. Assim ela assentia. Na esperança de esperar, assim ela esperava. Um dia, quem sabe? Eles casariam. Os encontros semanais. Resplandecência. Durante vinte anos ela viveu feliz, à espera do que esperava. Consonâncias , as ressonâncias. Uma vez, como tantas vezes, ele viajou. Desta vez, por duas semanas. Como tantas vezes, ele não escreveu. Ao contrário do que fazia outras vezes, quando ele voltou não telefonou. E não atendeu quando ela ligou. Dissonâncias? Reacreditada, ela se esperou. Palidescências. De manhã, debaixo da porta dela, um envelope com a letra dele. um bilhete. Obscurescência. Estava tudo acabado. Ele acabava de se casar. </em></span></div><div style="text-align: right;"><span style="color: #990000; font-size: large;">(Helena Parente Cunha, Cem Mentiras de Verdade, 1985.)</span></div><span style="font-size: large;"><br />
</span><br />
<div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">Esse conto de Helena Parente Cunha pode ser visto dentro de uma tradição literária latino-americana do gênero microconto cuja escrita sintética, sugestiva e poética abre possibilidades para maior reescritura da leitora (ou leitor), devido a sua alta carga evocativa. O conto acima, por fazer parte de uma produção datada dos anos 80, faz referências ao androcentrismo presente nas relações de gênero ao focalizar o poder do homem sobre a mulher, transformando-a, quando jovem, em uma pessoa ingênua, sem malícia e quando madura em uma mulher que, embora tenha perdido a ingenuidade inicial, precisa acreditar ou até mesmo apostar em suas escolhas. No entanto, essa "escolha" é diretiva, já que a sociedade patriarcal, com as suas instituições representativas e seu discurso, aprisiona a mulher dentro de uma cela de preceitos morais que dificilmente consegue escapar. A escrita das mulheres da geração de 60, em razão desse momento de ruptura com uma ordem altamente hierárquica, tendem a denunciar e problematizar as situações sociais contraditórias geradas pelo <em>pater potestas</em>. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"></span> </div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">No conto, observa-se que a função do homem é a de escritor, apontando para um traço importante do convencimento: o discurso, a linguagem metafórica, tão ao gosto dos romances, o jogo com as palavras, a manipulação das simbologias e, sobretudo, as camadas implícitas do dizer. Ela, com vinte anos, envolvida pelo código do amor romântico, com os seus mitologemas, incapaz de entender a linguagem do outro (porque não fora educada para isso) sucumbe às promessas, uma arma poderosa para manter a esperança no outro e, consequentemente, o poder sobre ele. </span></div>Lúcia Leirohttp://www.blogger.com/profile/16329739907951169909noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5591912658967006376.post-57614165117620042312011-07-21T16:48:00.000-07:002011-07-21T16:49:07.792-07:00XIV SEMINÁRIO NACIONAL - V SEMINÁRIO INTERNACIONAL MULHER E LITERATURA<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh7wT9BZn4PTXGyHkCJ4sclybyIF3vKH7WIA7BQsLhurzs5QJrr1L7EZu2sNGa9RZl-1_-wM2Rrv17mj3Dp1I6_AH1v8ZZcHdq3ZSeNUsSrjFIy6ccCPwm5ZhF5ZiH8ZrzXtWElykLXI1Y/s1600/topo-ml.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="108" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh7wT9BZn4PTXGyHkCJ4sclybyIF3vKH7WIA7BQsLhurzs5QJrr1L7EZu2sNGa9RZl-1_-wM2Rrv17mj3Dp1I6_AH1v8ZZcHdq3ZSeNUsSrjFIy6ccCPwm5ZhF5ZiH8ZrzXtWElykLXI1Y/s400/topo-ml.png" t$="true" width="400" /></a></div><br />
<span style="font-size: large;">Visite o site do evento: </span><a href="http://www.telunb.com.br/mulhereliteratura/">http://www.telunb.com.br/mulhereliteratura/</a>Lúcia Leirohttp://www.blogger.com/profile/16329739907951169909noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5591912658967006376.post-51080425828879042512011-07-12T03:33:00.000-07:002011-07-12T03:33:13.758-07:00Pagu - Ordem do Mérito Cultural<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgXDFWRHXulkogExMKvZdNQK2zaMj7REBUZboETmY9-TDCyIMhVLi7EK0zgzUnQ27M-o9oV40FdxkcQP2iEhz71S5WY-lk-xK0PhynYEbXqj72Re_AhVIipbi26BxBH5K8IEYHrsHbeYbo/s1600/pagu1-240x300.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; cssfloat: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="200" m$="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgXDFWRHXulkogExMKvZdNQK2zaMj7REBUZboETmY9-TDCyIMhVLi7EK0zgzUnQ27M-o9oV40FdxkcQP2iEhz71S5WY-lk-xK0PhynYEbXqj72Re_AhVIipbi26BxBH5K8IEYHrsHbeYbo/s200/pagu1-240x300.jpg" width="160" /></a></div><div style="text-align: justify;">O Ministério da Cultura informa que está aberto o prazo para a inscrição das propostas de indicação à Ordem do Mérito Cultural para o ano de 2011. O tema central da celebração desta edição será Pagu- Sonho-Luta-Paixão em homenagem a Patrícia Rehder Galvão, conhecida pelo pseudônimo de Pagu, escritora e jornalista brasileira que teve grande destaque no movimento modernista iniciado em 1922.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Criada em 1995, pelo Ministério da Cultura, a Ordem do Mérito Cultural é o reconhecimento do Governo Federal a personalidades, grupos artísticos, iniciativas e instituições que se destacaram por suas contribuições à Cultura brasileira.</div><div style="text-align: justify;">(...)</div><div style="text-align: justify;">As indicações podem ser enviadas para o site do Ministério da Cultura até o dia 22 de julho, mediante o preenchimento do formulário específico disponível no endereço eletrônico do MinC , ou pelos Correios, após download do documento ser preenchido e encaminhado para o seguinte endereço:</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Ordem do Mérito Cultural 2011</div><div style="text-align: justify;">Ministério da Cultura</div><div style="text-align: justify;">Assessoria de Comunicação Social</div><div style="text-align: justify;">Esplanada dos Ministérios, Bloco B, 4º andar</div>CEP 70068-900 Brasília – Distrito Federal<br />
<br />
Dúvidas e informações:<br />
E-mail: <a href="mailto:omc2011@cultura.gov.br">omc2011@cultura.gov.br</a><br />
Tels.: (61) 2024- 2406, com Eliane Rodrigues <br />
<br />
Texto trascrito e adaptado do site: <a href="http://www.cultura.ba.gov.br/2011/06/28/minc-ja-esta-recebendo-indicacoes-para-o-premio-que-homenageara-este-ano-a-escritora-pagu/">http://www.cultura.ba.gov.br/2011/06/28/minc-ja-esta-recebendo-indicacoes-para-o-premio-que-homenageara-este-ano-a-escritora-pagu/</a>Lúcia Leirohttp://www.blogger.com/profile/16329739907951169909noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5591912658967006376.post-13464376277857011502011-06-11T07:45:00.000-07:002011-06-11T07:45:08.807-07:00Mãe Bela, Mãe Fera, Marta Lagarta, 2010, ilustração Sami e Bill, Ed. Prumo<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiIaj_SVtmYlP8yq_pPIAdMq3fTTfQkPJXM9vNwQEff-P4LrTSkCWMDxoK6rTTp_jB3vON2IfgDSLE4qH87AOsW1UzkKTei2qPpVhgPr36EOeyxXa0dr8bDI9m5aBmsoxXKWJ7rl7RET8k/s1600/marta+lagarta.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; cssfloat: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiIaj_SVtmYlP8yq_pPIAdMq3fTTfQkPJXM9vNwQEff-P4LrTSkCWMDxoK6rTTp_jB3vON2IfgDSLE4qH87AOsW1UzkKTei2qPpVhgPr36EOeyxXa0dr8bDI9m5aBmsoxXKWJ7rl7RET8k/s320/marta+lagarta.jpg" t8="true" width="320" /></a></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;">Os livros de literatura infantil estão cada vez mais graficamente impactantes. Algumas escritoras (e escritores) têm percebido com muita acuidade o perfil de leitora (e leitor) potencial, imerso em um mundo no qual os apelos visuais, estéticos, muitas vezes sobrepõem-se ao ético. O que não acontece com o livro de Marta Lagarta que busca coordenar os elementos estéticos e éticos e trazer para o seu leitor uma literatura divertida, reflexiva, dialética.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span></span></div><div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;">Em <strong>Mãe Bela, Mãe Fera</strong>, a autora nos dá uma ideia do que representa a mãe real, aquela que acalenta e ao mesmo tempo repreende, desmitificando a idealização da mãe forjada pelo discurso da modernidade que vincula a maternidade a signos que evocam bondade, generosidade, candura, entre outros. No livro de Lagarta, escrito com fonte grande e arredondada, a mãe que se apresenta é “maga amarga” e “fada açucarada”, “grita descontente” e “brinca sorridente”, “balanço que vai e vem” e “tombo também”, ela concentra ao mesmo tempo alegria e tristeza para o filho. Daí o mote que se repete ao longo do texto: “como pode ser assim ora boa ora ruim?” Se é verdade o que as teóricas e teóricos da literatura infantil apontam, inclusive Regina Zilberman, uma das estudiosas deste gênero, ao lado de Nelly Novaes Coelho, Marisa Lajolo e outras, de que o adulto escreve para a criança que ele inventa, da mesma forma podemos dizer que o escritor também se inventa, enquanto adulto, para a criança. Neste caso, em relação ao texto em questão, é a figura da mãe, a sua representação, que é enfatizada para o leitor-criança, mostrando-se que a maternidade não é uma divinização da mulher, mas incorpora a sua humanidade com toda a sua complexidade. Se o ser humano é caracterizado pelo conflito diante de si e do mundo, a maternidade não poderia escapar a essas tensões próprias da condição humana porque, ao ser assumida, acaba fazendo parte dela. </span></div><div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none; text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span></span></div><div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;">“Minha mãe tem tantos jeitos</span><span style="font-size: large;"><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span></span></div><div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;">Que é difícil entender</span><span style="font-size: large;"><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span></span></div><div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;">Uma hora ela é um modo</span><span style="font-size: large;"><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span></span></div><div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;">Mas depois deixa de ser”</span></div><div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none; text-align: justify;"><br />
</div><div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none; text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;">Apesar de ser escrita pelo adulto, a voz narrativa é da criança, da filha, que vê alternando-se em seu cotidiano “a mãe semente” e a “mãe serpente”. Com este recurso, a transferência é imediata porque dá-se pelo processo de identificação da leitora (ou leitor) com a voz narrativa, as duas possui o mesmo status. O texto utiliza a forma em verso para dar ritmo a leitura, imprimindo-lhe ludicidade durante o fluxo da narrativa e reflexividade através dos versos repetidos ao longo do texto: “como pode ser assim ora boa ora ruim?”A dúvida suposta decorre da ideia de que a mãe deveria ser sempre boa? De onde vem esse imaginário? Por que esta imagem é internalizada a ponto de causar conflito? Estariam nos contos de fada? Se observarmos, a madrasta nas histórias infantis carrega sentidos associados à maldade, enquanto a mãe, em geral biológica, antagonicamente, evoca bondade, o que certamente pode ajudar a construir a representação da mãe associada à suprema benevolência. Quando a mãe escapa a essa figurativização, ela é imediatamente chamada de “madrasta”, como se fosse uma impostora. Existe também uma representação de maternidade que se relaciona ao cristianismo, na figura da Virgem Maria, o que contribui muito para a visão sublime de mãe, principalmente em países de colonização ibérica. </span></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;">O texto de Marta Lagarta, que já traz poesia em seu próprio nome, opera com elementos já sedimentados pela cultura, destaque para o maniqueísmo bem versus mal. No entanto, as duas forças antagônicas não estão separadas do sujeito, ao contrário, faz parte dele e desta forma a história provoca uma fissura na base do pensamento que separa o sujeito bom do mal como se fosse possível para uma pessoa, ao longo de sua existência, ser 100% boa ou 100% ruim. </span><span style="font-size: large;"><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;">“Ora boa ora ruim</span><span style="font-size: large;"><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;">Feito história encantada</span><span style="font-size: large;"><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;">Eu agora chego ao fim: </span><span style="font-size: large;"><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;">mamãe é conto de fada!”</span><span style="font-size: large;"><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span></span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhq2JUrnOHS3IuzsRIHX4Xpy1n8zX-xjQICbZPMR6PGcxIcuWN2bTJUHq2hxOmg-LU-jxEqjahuNu0LDi8SSipa3bf-tE1aXqXm9yqrCN8wtSH99h6hOvnrMqWmXkzPwvLQelov9OOf2Vo/s1600/MAMAE_BELAN_MAMAE_FERA_1276216529P.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; cssfloat: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhq2JUrnOHS3IuzsRIHX4Xpy1n8zX-xjQICbZPMR6PGcxIcuWN2bTJUHq2hxOmg-LU-jxEqjahuNu0LDi8SSipa3bf-tE1aXqXm9yqrCN8wtSH99h6hOvnrMqWmXkzPwvLQelov9OOf2Vo/s320/MAMAE_BELAN_MAMAE_FERA_1276216529P.jpg" t8="true" width="280" /></a></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;">Além do aspecto escrito, faz parte dos estudos da literatura infantil, a análise das imagens e a relação com a narrativa. Os ilustradores Sami e Bill trazem formas humanas – da mãe e da filha – predominantemente circulares, evocando acolhimento, graciosidade, o que parece trair a concepção dialética do texto escrito, mas a circularidade das formas é proposital e tem mais a ver com a recepção do leitor, já que as formas arredondadas são mais atraentes do que as angulares. No entanto, as formas não são muito harmônicas, partes do corpo são desproporcionais, dando maior “movimento” à imagem, uma forma inteligente de inserir dinamicidade ao texto. As cores, predominantemente quentes (amarelo e vermelho), tomam toda a página (o texto verbal é escrito sobre o cenário), contribuindo para maior adesão da leitora (leitor) ao texto.</span><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;">Mãe bela, mãe fera é um exemplo de literatura que se afasta às narrativas pedagogizantes que assolam a literatura infantil. É criativa, colorida, lúdica, inteligente e reflexiva. </span></div> <div style="text-align: right;"></div>Lúcia Leirohttp://www.blogger.com/profile/16329739907951169909noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5591912658967006376.post-64301032045990634552011-06-11T07:30:00.000-07:002011-06-11T07:33:09.002-07:00A Ilha Perdida, Maria José Dupré, 1973<blockquote><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, Helvetica, sans-serif;"><em>Na fazenda do Padrinho, perto de Taubaté, onde Vera e Lúcia gostavam de passar as férias, corre o rio Paraíba. Rio imenso, silencioso e de águas barrentas. Ao atravessar a fazenda ele fazia uma grande curva para a direita e desaparecia atrás da mata. Mas, subindo-se ao morro mais alto da fazenda chamavam de Ilha Perdida. Solitária e verdejante, parecia mesmo perdida entre as águas volumosas. (Dupré, 1973, p. 1)</em></span></div><br />
</blockquote><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif; font-size: large;">Estranhei quando recebi, das mãos do vendedor, o livro de Maria José Dupré: maior, colorido e em papel couché, o livro parecia outro, muito diferente daquele publicado nos anos 70 e ao qual tive acesso quando estudante. De qualquer sorte, o acolhi como se acolhe a memória ou os prazeres que ela evoca. Foi o primeiro livro que li na escola e que (finalmente) a professora acertou. E como era difícil acertar. Naquele tempo, a leitura dos clássicos era imprescindível para alguns professores, como se nós leitores tivéssemos saído dos romances do século XIX, em que as crianças lêem desde a mais tenra a idade os clássicos. De onde uma boa parte veio, inclusive eu, a leitura de livros não era muito freqüente, muito embora meus pais fossem leitores ávidos de jornais. Os livros circulavam, mas eram poucos e a televisão já havia ocupado os nossos lares. Fui uma leitora ávida de filmes, os clássicos, que passavam à tarde na televisão. </span></div><span style="font-size: large;"></span><br />
<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif; font-size: large;">Na escola, a professora indicou A Ilha Perdida e comecei a gostar de literatura, muito embora não fossem os “clássicos”. Li coleções de livros escritos para adolescentes, do tipo mistério e detetivescos, como Os Seis e Diana (não me recordo os detalhes), mas eram livros que eu lia, mas não me recordo de uma história deles. Aconteceu o mesmo, mais tarde, com os livros de Sidney Sheldon, li vários, mas não me lembro de nenhum deles. </span></div><span style="font-size: large;"></span><br />
<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif; font-size: large;">No entanto, A Ilha Perdida permaneceu e tornou-se referência para mim quando o assunto é prazer em ler. O livro narra a história de uma ilha misteriosa e que por guardar tanto mistérios, cai na curiosidade de Eduardo e Henrique (por sinal, nomes do meu pai e do meu tio), dois meninos que eram primos de Quico e Oscar, filhos do Padrinho, e que nas férias iam para a fazenda. Havia também Vera e Lúcia (esta, minha xará), mas apesar do romance começar com a voz narrativa se dirigindo a elas, quase não aparecem ao longo do texto. Os protagonistas são Eduardo e Henrique. Talvez fosse ainda arriscado apresentar um romance para adolescentes em que as protagonistas fossem meninas aventureiras, desafiadoras, meninas que ultrapassassem os limites impostos pela obediência paterna, na figura do Padrinho. Do ponto de vista ortodoxo de gênero, esse papel caberia aos meninos, o que de fato acontece. Eduardo e Henrique atravessam o rio e conhecem a Ilha. A escritora, com maestria, consegue fidelizar o seu leitor desde o início, aguçando a sua curiosidade e conduzindo-o e transportando-o imediatamente para o texto. O leitor é o terceiro tripulante na viagem, além dos dois meninos, que testemunha as peripécias dos personagens, suas dores e alegrias quando se veem sozinhos na Ilha. O retorno à fazenda foi interrompido por uma tempestade, levando-os a permanecerem mais tempo do que planejado na incógnita ilha. Nada mais emocionante do que acompanhar as descobertas dos meninos, não só em relação a Ilha, mas sobre a vida, já que precisam lidar com os medos e ter que superá-los. A Ilha se apresenta como metáfora do mundo, desconhecido para os adolescentes que, muitas vezes longe do adulto, ou dos familiares, precisam interagir com ele, conhecendo-o, para melhor participar dele. A separação das personagens foi um recurso interessante, pois acentuou a carga dramática e, também, o sentido de individualidade e de independência. Estar sozinho representa a unicidade da experiência, já que mesmo estando com outras pessoas, a experiência é única, individual, do sujeito, percebida de forma singular e este sentido ficou muito bem demarcado quando as personagens se separam acidentalmente. </span></div><span style="font-size: large;"></span><br />
<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif; font-size: large;">Na Ilha, mora Simão, um homem que havia se afastado da cidade e foi morar na Ilha. Ali, próximo dos animais, Simão redescobre a humanidade e Henrique participa desse momento: “Henrique nunca vira um animal chorar e ficou admirado olhando a cena.”. A voz narrativa apresenta ao leitor um Simão filósofo que questiona a conduta humana quando mata um animal: </span></div><span style="font-size: large;"></span><span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif; font-size: large;"></span><br />
<blockquote><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif; font-size: large;"><em>Os caçadores não têm coração. Matam um pobre animal inofensivo pelo prazer de matar. Veja você: matar um bichinho tão inocente, tão bonito, tão delicado. Para quê? Se fosse para saciar a fome, ainda bem, mas é para se divertir que eles matam. Matam por crueldade. Querem apostar para ver quem mata melhor, quem mata primeiro</em>. (DUPRÉ, 1973, p. 94)</span></div></blockquote><div style="text-align: justify;"></div><span style="font-size: large;"><div style="text-align: justify;"><br />
</div><span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;"></span></span><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif; font-size: large;">A rispidez de Simão em relação a Henrique ao longo da narrativa remete o(a) leitor(a) a essa experiência negativa, vivida na cidade:</span></div><span style="font-size: large;"><div style="text-align: justify;"><br />
</div><span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;"></span></span><span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif; font-size: large;"><blockquote><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif; font-size: large;"><em>- Olhe, menino. Já vivi entre homens e sei que eles juram falso. Muitas vezes fui enganado por ele, agora não me enganam mais. Não creio em sua palavra.</em> (DUPRÉ, 1973 p. 82)</span></div></blockquote><div style="text-align: justify;"></div><span style="font-size: large;"><div style="text-align: justify;">A relação entre Simão e Henrique, a partir da convivência, vai se modificando e uma amizade começa a se formar. Neste processo, pactos de confiança, exercícios de tolerância, generosidade vão sendo construídos, tornando a jornada de Henrique um prazeroso aprendizado sobre a vida:<span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif; font-size: large;">Somente neste trecho, a narrativa leva o(a) lei r(a) à reflexão sobre as razões que levam o sujeito a tirar a vida de outro ser vivo. A assimetria entre forte x fraco como base de sustentação das relações de poder, os valores competitivos como direção para a conduta humana e a banalização da vida através da morte por diversão, aparecem como traço que caracterizam o homem urbano, o que nos remete, de certa forma, ao mito rousseauniano do bom selvagem:</span></div><span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;"></span></span><span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif; font-size: large;"><blockquote><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif; font-size: large;">-E<em><em>scute uma verdade, Henrique: quanto mais culto um povo, melhor ele sabe tratar os inferiores e os animais. Isso demonstra grande cultura e você nunca deve esquecer.</em> </em></span>(DUPRÉ, 1973 p. 99)</div></blockquote><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif; font-size: large;">O tom pedagógico aparece, mas de diferentes formas: através do discurso, do diálogo entre Simão e Henrique, através das práticas, do manejo das coisas, e da observação. </span></div><span style="font-size: large;"><div style="text-align: justify;"><br />
</div><span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;"></span></span><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif; font-size: large;">Existem outras questões que são tratadas neste livro que, a meu ver, é uma referência para a literatura infanto-juvenil brasileira: a fluidez da escrita, a composição dos núcleos dramáticos e a forte carga imagística do texto conferem à Ilha Perdida o status de clássico da nossa literatura brasileira infanto-juvenil. </span></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiOQtBgOAOIKDVkwUQ_eKjJjdUlTT7-5fZxV0tTw9Y8ABjhYI6y_dBagYo4PG6ekhTSb2et4jSnoTFjVHJsOfWYFhcVrXhyphenhyphenKJ6InKOqXVuzI4Ns-NflfOxlDuItXdj893yXh0c4r5A9zMM/s1600/MARIA_%257E1.JPG" imageanchor="1" style="clear: right; cssfloat: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiOQtBgOAOIKDVkwUQ_eKjJjdUlTT7-5fZxV0tTw9Y8ABjhYI6y_dBagYo4PG6ekhTSb2et4jSnoTFjVHJsOfWYFhcVrXhyphenhyphenKJ6InKOqXVuzI4Ns-NflfOxlDuItXdj893yXh0c4r5A9zMM/s1600/MARIA_%257E1.JPG" t8="true" /></a></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia; font-size: large;">A autora: (Botucatú 1898- Guarujá 1984)</span></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia; font-size: large;">Fundadora, ao lado de Monteiro Lobato, Caio Prado Jr. Leandro Dupré e Artur Neves, da editora brasiliense, Maria José Dupré se estabeleceu como romancista para o público adulto e infanto-juvenil. É autora dos romances Éramos Seis, Gina, entre outros.</span></div></span></span>Lúcia Leirohttp://www.blogger.com/profile/16329739907951169909noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-5591912658967006376.post-73401446957972857192011-06-10T13:46:00.000-07:002011-06-10T13:46:24.200-07:00UMA NOVA MULHER, MARINA COLASANTI, 1980<div style="text-align: center;"><em><span style="color: #cc0000; font-size: large;">“Sem independência econômica, não existe independência”</span></em></div><div style="text-align: center;"><em><span style="font-size: large;"><span style="color: #cc0000;">“Uma das grandes, embriagadoras vantagens da independência é o poder de escolha” </span> </span></em><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhf7F9opFVZCJeGBz3FOX0KgBWyaD4XTawmRJpF5mffHl_mO6WliYY-K_G-BWj3O7-MwPCL1yte6AId9bJGuJwaPlzXsTgPmjadUEunye_JHdO_eKKKIkCk7z7OwjsYMcjMu36ZOM1Ue6E/s1600/Marina-Colasanti.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; cssfloat: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><span style="font-size: large;"><img border="0" height="178px" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhf7F9opFVZCJeGBz3FOX0KgBWyaD4XTawmRJpF5mffHl_mO6WliYY-K_G-BWj3O7-MwPCL1yte6AId9bJGuJwaPlzXsTgPmjadUEunye_JHdO_eKKKIkCk7z7OwjsYMcjMu36ZOM1Ue6E/s200/Marina-Colasanti.jpg" t8="true" width="200px" /></span></a><span style="font-size: large;">(Marina Colasanti)</span></div><br />
<div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">Estava em débito com as postagens, pois estou sem internet em casa o que dificulta as atividades de blogagem. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">O livro que cito hoje não é novo, foi escrito em 1980, pela escritora etíope Marina Colasanti, cujo título já aponta para uma questão de gênero, Uma Nova Mulher. A escritora apesar de não ter nascido em terras brasileiras, pois veio com 11 anos para o Brasil, transformou-se em uma das mais expressivas escritoras contemporâneas brasileiras. </span></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">Neste livro, Colasanti inicia a sua reflexão sobre a ‘nova mulher’, tematizando a questão da independência para as mulheres que foram educadas para serem esposas e mães. Através do texto Independência, que bonita que é, a escritora põe em questão a valorização do casamento pela sociedade brasileira, tornando privilegiadas as meninas casadoiras e paralelamente desprestigiadas aquelas que, embora não eliminassem a possibilidade de se casarem, não coloca o matrimônio como prioridade ou fim último:</span></div><blockquote><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">Mas a heroína da classe não era eu. Eram as duas meninas, que desde o início do ano exibiam as suas alianças e certezas no futuro, enquanto as outras, menos afortunadas, batiam as estacas de sua segurança na escolha de um bom rapaz, namorado firme. Não era costume, não ficava bem uma moça de família pensar em independência. (COLASANTI, 1980, p. 11)</span></div></blockquote><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">Colasanti levanta algumas questões que podem ter dado origem às confusões que permeiam os discursos, ao associar ‘dependência com carinho’. A escritora desmistifica a ideia de que ser solteira não é ser só, isolada das pessoas, alijada do exercício da afetividade e salienta a importância de romper os laços de dependência em todos os níveis, sobretudo o financeiro e o emocional. Esta ideia está articulada a outra questão que a escritora traz em seu texto, ao articular a dependência à infantilização, mostrando a tendência das mulheres dependentes em colocar a culpa nos outros: “quando a gente é independente tem mesmo que arcar com as próprias culpas, e tentar entendê-las, conviver com elas” (COLASANTI, 1980, p. 12). </span></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">A independência das mulheres é mais difícil, reconhece a escritora, por isso, deve ser alçada tendo em vista alguns aspectos: 1) maturidade financeira, pois sem dinheiro a independência não se estabelece; 2) manutenção dos laços familiares, pois o apoio da família contribui para uma emancipação menos traumática, embora a escritora reconheça que nem sempre seja possível; 3) maturidade emocional, pois, de acordo com Colasanti, pode-se ser dependente, mesmo saindo de casa, ou independente sem precisar sair. A independência é “uma forma de se colocar diante da vida”. (COLASANTI, 1980, p. 13)</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">A autora desmistifica ainda a ideia de uma independência relacionada ao estado civil, pois “pode-se, portanto (...) ser independente e ser casada, ou ser independente e morar com um rapaz” ou, complementando o raciocínio, embora a escritora não enuncie, ser solteira e ser dependente. Ficou no interdito, já que escrever sobre a dependência das mulheres solteiras, nos anos 80, em pleno momento de reverberação das conquistas feministas, poderia soar conservador. </span></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">Colasanti enfatiza a questão financeira como condição imprescindível para a independência, pois</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><blockquote><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">Dependentes, amarradas a decisões e interesses familiares, muitas mulheres casam até hoje sem amor, apenas por conveniência, para garantir o mantenedor de papel passado. E por dependência econômica, por não saber, poder ou querer prover a si mesmas, um número assustadoramente grande de mulheres se mantêm presas a casamentos errados, dolorosos e às vezes até humilhantes. (COLASANTI, 1980, p. 14)</span></div></blockquote><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">Logicamente que naquele momento, as mulheres da geração de 60, quase todas casadas ou divorciadas, vão focalizar as relações familiares, que dão sustentação à assimetria de gênero, um dos alicerces do patriarcado. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">Colasanti desmistifica também a questão da profissionalização, mostrando que ter uma profissão não garante a independência, embora seja importante para dar acesso a segurança financeira. O que a escritora defende é o conhecimento de mundo, isto é, “saber em que mundo se vive, quem são as pessoas que nos rodeiam, quais são os grandes questionamentos do ser humano (...) são os conhecimentos que dão à nossa independência uma arquitetura mais sólida” (COLASANTI, 1980, p. 15). Neste sentido, a autora mostra que é importante saber resolver pequenos embaraços cotidianos, como trocar pneus, botar uma bucha na parede, ainda que as mulheres não precisem necessariamente executá-los, </span></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><blockquote><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">mas é um descanso saber que se for preciso a gente mesma faz, sem ter ficar apatetadas à beira da escada ou na porta de casa, esperando que um homem salvador caia dos céus para resolver estes problemas “insolúveis” (Idem, Ibidem)</span></div></blockquote><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">Uma mulher independente, segundo Colasanti, não pode ser passiva, vir “à reboque de alguém”, o conhecimento é fundamental para que os assuntos, fruto do diálogo entre o casal, sejam abalizados a partir dos dois pontos de vista. É importante que se diga que o leitor ou leitora de interesse da escritora é o da classe média, a qual ela pertence, e que, em razão disso, a questão do casamento ainda é um objetivo de muitas, não se cogitando, por exemplo, outros arranjos conjugais. Para Colasanti, o problema está ainda na mulher que vê a profissão como uma passagem, não vê como carreira, com uma visão de futuro e de inserção social. Algumas mulheres deixam de trabalhar quando se casam, reforçando a ideia do trabalho como exercício para as mulheres solteiras. O casamento passa a dar acesso à prática de diferentes profissões: arrumadeira, camareira, cozinheira, lavadeira, enfermeira, decoradora, costureira, bordadeira, entre outras, em troca a mulher gozaria do status de esposa, herdeira da metade do patrimônio (se tiver filhos), após a morte do marido, mas correndo o risco do divórcio que a atrelava à pecha de mulher lúbrica, por isso a sua conduta teria de ser enquadrada ao sistema. </span></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">Concluindo o seu texto, Colasanti se reporta a algumas falas que circulam na sociedade, oriundas dos medos dos homens da mulher independente e a cada um delas a autora descarta a possibilidade da mulher vir a se interessar pelos perfis de homens que se apresentam. </span></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">1) Os homens que temem a concorrência. “que a mulher nenhuma deve interessar”.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">2) Os homens que temem a liberdade da mulher ir e vir. “quem os quer?”</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">3) Os homens que temem a mulher liberada sexualmente. “E estes para que servem?” </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">A autora ainda provoca a sua leitora (ou leitor) dizendo que a independência traz benefícios à mulher porque funciona como “peneira”, isto é, ajuda a selecionar os parceiros conjugais. Por fim, a propaganda chega a ser metaforizada em linguagem de mercado: a escritora, uma das consumidoras, testemunha a eficiência do produto, a independência, e ao contrário de um vendedor, ela não detém o produto, mas nos informa que “ele é acessível, nacional e está bem ao alcance de cada uma”. (COLASANTI, 1980, p. 18-19).</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">Em pleno backlash, momento pelo qual passamos atualmente, quando vemos algumas performances conservadoras nas práticas sociais, vale a pena resgatar os textos das escritoras da geração de 60, pois eles foram importantes tanto do ponto de vista literário quanto pedagógico, servindo como ponto ou contraponto no processo dialógico da leitura. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">Questões salientadas por Colasanti ainda podem ser sentidas hoje na vida de muitas mulheres, independente da classe social. A dependência econômica e emocional ainda é um entrave a ser superado diariamente, atrasando o processo de desenvolvimento da mulher. A mídia, a literatura, enfim, os discursos que operam com o simbólico podem libertar as mulheres das ciladas de gênero ou podem trancafiá-las eternamente, limitando-as e reduzindo-lhes a existência humana. Uma mulher dependente não experimenta as suas potencialidades humanas porque nunca ultrapassa os limites estipulados para ela, e o pior é que elas acabam se convencendo de que a vida é assim mesmo: se asas, sem vento, sem horizontes.</span></div>Lúcia Leirohttp://www.blogger.com/profile/16329739907951169909noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5591912658967006376.post-2028827936596324892011-04-28T19:18:00.001-07:002011-04-28T19:54:51.997-07:00ONDE ESTÃO AS MENINAS NA LITERATURA INFANTIL?<div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">Os anos 80 foram profícuos para a produção literária de autoria feminina, da mesma forma que foi para a literatura infantil. É comum no <em>metier </em>a referência ao "boom" da literatura infantil neste período, sobretudo das produções das escritoras como Ana Maria Machado e Ruth Rocha entre outras. Algumas são eminentemente escritoras dos pequenos, enquanto outras ocasionalmente percorrem esse caminho, como Marina Colasanti, Clarice Lispector, por exemplo. </span><br />
<br />
<span style="font-size: large;">Uma análise dos livros de literatura infantil nos últimos vinte anos, nos dá uma ideia de como a questão de gênero ficaram de fora, na medida em que as personagens eram quase todas masculinas, exceto os contos de fada. Principalmente as narrativas juvenis que geralmente elegem temas de aventura e nos quais as meninas só aparecem como coadjuvantes. Lembrei-me da <strong>Ilha Perdida</strong>, de Maria José Dupré, escrito em 1944, centrado em duas personagens masculinas, ainda que faça referência a duas meninas.</span><br />
<br />
<span style="font-size: large;">Nos anos 80, temas mais engajados socialmente começam a embasar algumas histórias, até porque o momento histórico era favorável. O movimento feminista já tinha deixado as suas marcas na sociedade e havia uma tendência de a literatura traduzir o que acontecia nela. Embora os livros não trouxessem explicitamente uma discussão sobre os papéis sociais masculinos e femininos, eles traziam protagonistas meninas com atitude mais altiva e questionadora. </span><br />
<br />
<span style="font-size: large;">O livro de Ruth Rocha, <strong>Quem tem medo de dizer não,</strong> é um exemplo de narrativa que se aproxima de uma literatura infantil feminista porque traz uma menina que muda de atitude ao perceber que, ao não saber dizer não, acaba se prejudicando, sendo explorada e oprimida pelo adulto que internaliza um modelo patriarcal hegemônico de tratar as meninas. </span><br />
<br />
<span style="font-size: large;">O final é muito interessante porque no lugar de inverter, o que poderia ser uma cilada, a autora opta por um desfecho mais flexível, sem radicalidades. A menina teria de saber quando dizer sim e quando dizer não, sugerindo que a relação com o outro depende de uma avaliação da situação, o que requereria mais sensibilidade e reflexão do sujeito.</span><br />
</div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">Narrativas como essas não são muitas. Diria até que é uma exceção, da mesma forma que raramente encontramos narrativas criativas, inteligentes e menos óbvias quanto à sua proposta. Concordo com Ruth Rocha quando fala que o humor se perdeu da literatura infantil, ao que acrescento a engenhosidade com a palavra. Pode-se escrever uma literatura feminista para crianças sem que a personagem necessariamente precise fazer uma auto-declaração ou que se apresente como uma ativista. </span><br />
<br />
<span style="font-size: large;">A literatura infantil pode ser uma literatura engajada para os pequenos, desde que mantenha a sua engenhosidade literária, pronta para insinuar, sugerir muito mais do que dizer às claras sem provocar na criança a necessidade de pensar, evocar a sua imaginação. </span><br />
</div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">Ruth Rocha presenteia a leitora com uma protagonista que emancipa-se ao se perceber oprimida por uma educação de menina "boazinha", que deve aceitar tudo sem reclamar e sofrer calada. </span><br />
</div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">Pergunto-me: será que as meninas são assim na vida real? De que meninas estamos falando? Se as meninas de hoje não aceitam mais as imposições de forma silenciosa, precisamos escrever sobre como as meninas estão sendo tratadas quando resolvem dizer "não". Talvez Ruth Rocha (ou outra escritora) precisasse escrever a continuação da história da menina que também sabe dizer "não" quando necessário e aí poderíamos prosseguir com uma literatura infantil engajada, criativamente engajada.</span></div>Lúcia Leirohttp://www.blogger.com/profile/16329739907951169909noreply@blogger.com1