quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Maria Zita: poeta de Caetité

Quando estive em Caetité, pesquisando no Arquivo Público da Cidade para conhecer melhor a sua história, deparei-me com jornais que publicavam poemas escritos por mulheres. Uma das escritoras chamava-se Maria Zita,  autora dos livros "Violêtas" e "Poesias" e colaboradora do jornal A Penna, de João Gumes. Um dos poemas foi em sua homenagem:

João Gumes (no meu pensamento)


Tu que empenhaste pena vigorosa
Em prol deste sertão menosprezado,
Clareando-o com luz esplendorosa:
- O teu talento privilegiado;


Tu que fizeste a empresa gloriosa
Surgir neste sertão abandonado;
Pondo "A Penna" brilhante e valorosa
De todo empr'endimento nobre ao lado

Tua lembrança o tempo não consome;
Ligada está a Caetité o nome ...
Dorme em paz o teu sono derradeiro!

Teu nome não cairá jamais no olvido.
Descansa! Has de viver onde fôr lido,
Um capítulo só 'O Sampauleiro!

(Maria Zita)
Bom Jesus dos Meiras, 08 de maio de 1930
(transcrito d'A Penna)

O poema foi escrito oito dias após a morte de João Gumes, intelectual e fundador do jornal local, A Penna, em 05/03/1897. Gumes nasceu em 10/05/1858 e faleceu em 29/04/1958. O jornal A Penna, assim como as produções literárias de João Gumes, tematizava o problema da migração dos sertanejos para o sudeste do país, principalmente São Paulo, e o analfabetismo. Em O Sampauleiro, por exemplo, além da migração, o romance focaliza um problema de gênero ao mostrar os problemas enfrentados pelas mulheres quando os seus maridos viajavam e não mais voltavam.  Sozinhas e com filhos tinham de proteger a casa e manter a sobrevivência de si e dos rebentos. Problemas que são ratificados no verso de Maria Zita quando se refere a um sertão abandonado, menosprezado e esquecido. O tom laudatório, propício para o evento, não esconde a posição política da autora que, assim como o escritor, percebia as consequencias danosas de um lugar que vivia à margem das capitais e dos grandes centros urbanos, esquecido completamente. Diante de tal descaso, restava ao sertanejo intelectual, artista ser voz dissonante, contestatória.

Maria Zita em seus versos aponta o Sampauleiro como a grande contribuição de João Gumes para a cultura sertaneja e através do qual ficaria conhecido na história.

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