Os anos 80 foram profícuos para a produção literária de autoria feminina, da mesma forma que foi para a literatura infantil. É comum no metier a referência ao "boom" da literatura infantil neste período, sobretudo das produções das escritoras como Ana Maria Machado e Ruth Rocha entre outras. Algumas são eminentemente escritoras dos pequenos, enquanto outras ocasionalmente percorrem esse caminho, como Marina Colasanti, Clarice Lispector, por exemplo.
Uma análise dos livros de literatura infantil nos últimos vinte anos, nos dá uma ideia de como a questão de gênero ficaram de fora, na medida em que as personagens eram quase todas masculinas, exceto os contos de fada. Principalmente as narrativas juvenis que geralmente elegem temas de aventura e nos quais as meninas só aparecem como coadjuvantes. Lembrei-me da Ilha Perdida, de Maria José Dupré, escrito em 1944, centrado em duas personagens masculinas, ainda que faça referência a duas meninas.
Nos anos 80, temas mais engajados socialmente começam a embasar algumas histórias, até porque o momento histórico era favorável. O movimento feminista já tinha deixado as suas marcas na sociedade e havia uma tendência de a literatura traduzir o que acontecia nela. Embora os livros não trouxessem explicitamente uma discussão sobre os papéis sociais masculinos e femininos, eles traziam protagonistas meninas com atitude mais altiva e questionadora.
O livro de Ruth Rocha, Quem tem medo de dizer não, é um exemplo de narrativa que se aproxima de uma literatura infantil feminista porque traz uma menina que muda de atitude ao perceber que, ao não saber dizer não, acaba se prejudicando, sendo explorada e oprimida pelo adulto que internaliza um modelo patriarcal hegemônico de tratar as meninas.
O final é muito interessante porque no lugar de inverter, o que poderia ser uma cilada, a autora opta por um desfecho mais flexível, sem radicalidades. A menina teria de saber quando dizer sim e quando dizer não, sugerindo que a relação com o outro depende de uma avaliação da situação, o que requereria mais sensibilidade e reflexão do sujeito.
Uma análise dos livros de literatura infantil nos últimos vinte anos, nos dá uma ideia de como a questão de gênero ficaram de fora, na medida em que as personagens eram quase todas masculinas, exceto os contos de fada. Principalmente as narrativas juvenis que geralmente elegem temas de aventura e nos quais as meninas só aparecem como coadjuvantes. Lembrei-me da Ilha Perdida, de Maria José Dupré, escrito em 1944, centrado em duas personagens masculinas, ainda que faça referência a duas meninas.
Nos anos 80, temas mais engajados socialmente começam a embasar algumas histórias, até porque o momento histórico era favorável. O movimento feminista já tinha deixado as suas marcas na sociedade e havia uma tendência de a literatura traduzir o que acontecia nela. Embora os livros não trouxessem explicitamente uma discussão sobre os papéis sociais masculinos e femininos, eles traziam protagonistas meninas com atitude mais altiva e questionadora.
O livro de Ruth Rocha, Quem tem medo de dizer não, é um exemplo de narrativa que se aproxima de uma literatura infantil feminista porque traz uma menina que muda de atitude ao perceber que, ao não saber dizer não, acaba se prejudicando, sendo explorada e oprimida pelo adulto que internaliza um modelo patriarcal hegemônico de tratar as meninas.
O final é muito interessante porque no lugar de inverter, o que poderia ser uma cilada, a autora opta por um desfecho mais flexível, sem radicalidades. A menina teria de saber quando dizer sim e quando dizer não, sugerindo que a relação com o outro depende de uma avaliação da situação, o que requereria mais sensibilidade e reflexão do sujeito.
Narrativas como essas não são muitas. Diria até que é uma exceção, da mesma forma que raramente encontramos narrativas criativas, inteligentes e menos óbvias quanto à sua proposta. Concordo com Ruth Rocha quando fala que o humor se perdeu da literatura infantil, ao que acrescento a engenhosidade com a palavra. Pode-se escrever uma literatura feminista para crianças sem que a personagem necessariamente precise fazer uma auto-declaração ou que se apresente como uma ativista.
A literatura infantil pode ser uma literatura engajada para os pequenos, desde que mantenha a sua engenhosidade literária, pronta para insinuar, sugerir muito mais do que dizer às claras sem provocar na criança a necessidade de pensar, evocar a sua imaginação.
A literatura infantil pode ser uma literatura engajada para os pequenos, desde que mantenha a sua engenhosidade literária, pronta para insinuar, sugerir muito mais do que dizer às claras sem provocar na criança a necessidade de pensar, evocar a sua imaginação.
Ruth Rocha presenteia a leitora com uma protagonista que emancipa-se ao se perceber oprimida por uma educação de menina "boazinha", que deve aceitar tudo sem reclamar e sofrer calada.
Pergunto-me: será que as meninas são assim na vida real? De que meninas estamos falando? Se as meninas de hoje não aceitam mais as imposições de forma silenciosa, precisamos escrever sobre como as meninas estão sendo tratadas quando resolvem dizer "não". Talvez Ruth Rocha (ou outra escritora) precisasse escrever a continuação da história da menina que também sabe dizer "não" quando necessário e aí poderíamos prosseguir com uma literatura infantil engajada, criativamente engajada.
Olá, Lúcia!
ResponderExcluirPesquisando por "mulheres na literatura brasileira", deparei-me com este blog e adorei.
Passarei por aqui mais vezes :)
Abraço,
Giovana.