Morri pela beleza, mas apenas estava
Acomodada em meu túmulo,
Alguém que morrera pela verdade,
Era depositado no carneiro próximo.
Perguntou-me baixinho o que me matara.
Perguntou-me baixinho o que me matara.
– A beleza, respondi.
– A mim, a verdade, – é a mesma coisa,
Somos irmãos.
E assim, como parentes que uma noite se encontram,
E assim, como parentes que uma noite se encontram,
Conversamos de jazigo a jazigo
Até que o musgo alcançou os nossos lábios
E cobriu os nossos nomes.
Há quem diga que poesia não foi feita para analisar, mas para senti-la e só. Mas como crítica que sou não posso me furtar ao exercício da interpretação e para tal necessito apresentar o contexto. Emily Dinckson nasceu na Inglaterra no século XIX, na chamada Era Vitoriana. Chamava-se assim por conta de um código moral implantado pela Rainha Vitória permeado de preconceito, repressão sexual e afetiva, sobretudo para as mulheres, cada vez mais enclausuradas em um mundo hipócrita de proibições e transgressões.
Nesse poema, o eu-lírico coloca em um mesmo nível a beleza e a verdade, ambas "irmãs", porque efêmeras e alimentadas pela vaidade humana. O fato de escolher um jazigo, fortalece o sentido da finitude das duas e a máscara que as reveste, ornadas para o outro, para seduzi-lo.
Se fizermos uma leitura a partir do lugar de fala da escritora, considerando o seu momento histórico e cultural, podemos identificar uma certa denúncia nesse poema, uma vez que a beleza, eleita pela sociedade patriarcal para ser cultuada pela mulher, é a razão da sua morte social, pois a acorrenta a um jogo de sedução que a imobiliza dentro de um construto da feminilidade a partir do olhar do homem, que por sua vez, para alcançar o seu intuito, constrói o seu discurso em torno de verdades. Essas verdades aparecem como discurso na sustentação de uma ideologia patriarcal mascarada.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirBom dia,
ResponderExcluirpara seu conhecimento, a escritora chamava-se DICKINSON (2 i) e não Dinckson. Outra, ela nasceu nos EUA e não na Inglaterra. Ela era norte-americana!